Thursday, October 07, 2004

Abandono Escolar - uma emergência nacional

A Comissão Europeia divulgou um “projecto de relatório intercalar” acerca dos objectivos da “Estratégia de Lisboa” para os sistemas de educação e de formação na Europa. Esse relatório revela que, considerando os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, a “taxa média de casos de abandono escolar, precoce, na União é de 18,8 %”.

Surpreendente, ou talvez não, os dez países aderentes apresentam melhor desempenho que os actuais Estados membros da União com uma taxa de 8,4 %.

Outro facto relevante é que Portugal apresenta a mais alta taxa de abandono escolar da União Europeia com 45,5%. Ainda mais preocupante é o facto de Portugal (com a Dinamarca) ter invertido, a partir de meados da década de 90, a tendência para a melhoria deste indicador, encetada no início dessa mesma década.

Mesmo que se tente suavizar a situação, questionando os critérios adoptados para construir estes indicadores, são notícias preocupantes para a Europa e, em particular, para Portugal.

É uma situação reveladora da profunda “desvantagem competitiva” de Portugal face aos restantes países da EU. Não está em causa a estatística mas a economia e as vidas que se escondem por detrás da estatística. Os jovens, na maior parte dos casos, abandonam a escola por razões económicas no quadro de situações familiares à beira do limiar da sobrevivência.

Contrariar esta tendência é uma tarefa do Estado, quer dizer, da comunidade. O núcleo essencial para atacar o problema é a escola. A comunidade escolar conhece os problemas dos alunos, as suas dificuldades, as tensões que atravessam as suas vidas concretas.

O combate ao abandono da escola, antes do fim da escolaridade obrigatória, deveria ser considerado um grande desígnio nacional. Assim uma espécie de Euro 2004. Com prazos fatais. E obras emblemáticas. E figuras públicas reconhecidas envolvidas na promoção. Uma campanha a sério com objectivos quantificados e fiscalização da sua execução.

Não sei se seremos capazes de planear a médio/longo prazo um projecto de redução drástica desta hemorragia de recursos que representa o abandono escolar. Será necessária muita clareza nas medidas, muita determinação e rigor nas acções a empreender tornando-as mobilizadoras para toda a comunidade nacional. Não se trata tanto de uma questão de recursos materiais mas de vontade política e de mobilização cívica.

É um projecto que exige uma complexa engenharia de meios financeiros, materiais e humanos. Exige o fim das querelas e disputas entre as instituições que gerem os recursos destinados à formação profissional e à educação e a participação empenhada dos parceiros com papel no terreno: empresários, instituições públicas, professores, funcionários, sindicatos, associações de pais, autarquias, etc.

Mas o futuro de Portugal depende de sermos capazes de pôr fim a esta situação anómala de tantas famílias e jovens encararem a escola como uma obrigação que se pode abandonar sem uma fortíssima penalização social.

O relatório em apreço é bastante claro quando anuncia que os Ministros da Educação da União acordaram o objectivo de fazer baixar esta percentagem de abandono escolar dos cerca de 20%, verificados em 2002, para 10%, até 2010.

Mas, está bem de ver que, que para atingir este objectivo, na maioria dos estados membros, serão necessários esforços consideráveis. Imagine-se a dimensão desse esforço em Portugal!

(Artigo publicado em Abril de 2004 no "Semanário Económico")


1 comment:

Anonymous said...

Excellent, love it! » »