Monday, October 24, 2005

O 18 DE BRUMÁRIO DA CGTP, PCP E BE

Estou, no essencial, de acordo com o que João César das Neves escreve, hoje, no DN. Sem entrar em mais detalhes acerca da vertigem despesista dos anos 80, a partir dos governos de Cavaco Silva (a partir de 1985) e dos anos 90 (fifty-fifty, Cavaco Silva/António Guterres), a crise da esquerda tradicional e do “sindicalismo de classe” está à vista de todos. É uma lástima assistir às suas reivindicações e manifestações cada vez mais acantonadas na defesa dos interesses de grupos sociais relativamente privilegiados, deixando ao abandono os verdadeiros “trabalhadores, contribuintes, utentes, consumidores e cidadãos pobres que alimentam as despesas públicas sumptuárias.”

"O 18 de Brumário da CGTP, PCP e BE

A discussão à volta do Orçamento revela, mais uma vez, uma das maiores perdas que Portugal sofreu nas últimas décadas a da coerência nas forças sindicais e marxistas. A triste imagem de sindicatos a defender classes favorecidas, de partidos de esquerda a proteger privilégios insustentáveis revela uma profunda crise.

Ninguém tem dúvidas de que uma das maiores opressões da classe operária hoje em Portugal vem do sistema fiscal. Como quem paga impostos são sobretudo os empregados, é evidente que os inchados dinheiros do Estado saem, acima de tudo, dos bolsos dos trabalhadores. Quando se ouve o PCP e o Bloco de Esquerda criticar o Orçamento por o esforço de contenção não ser feito à custa de mais receita, pergunta-se onde estão as forças que defendem os operários-contribuintes?

Ninguém tem dúvidas de que os funcionários públicos, professores, médicos, etc. são das camadas mais privilegiadas da nossa população activa. Imunes aos despedimentos, com salários administrativos, benefícios especiais e excelentes condições na saúde e reforma, mal se comparam com os trabalhadores das empresas. Além disso, esses rendimentos e regalias são todos pagos com impostos dos pobres. Quando o Governo os belisca e a CGTP vem defendê-los como se fossem da classe operária, pergunta-se quem representa os verdadeiros interesses sindicais?

Ouvindo a retórica é difícil imaginar a CGTP, PCP ou BE como organizações corporativas, mas é isso que elas estão a ser. Mantêm a forma mas alteraram o conteúdo. Abandonaram os verdadeiros interesses das massas mais pobres, para proteger o Estado obeso, aguentar mecanismos de protecção e mordomias injustas. O argumento é que se trata de direitos laborais, e tocar-lhes é desmantelar a justiça de classe. Mas este dogmatismo abstracto e irrealista (também manifestado na reforma da Segurança Social, propinas, etc.) é indigno de marxistas.

Nenhum materialista ignora os reais fluxos económicos para se prender a regras genéricas. Além disso, esquecendo que os gastos públicos são pagos pelos trabalhadores, passam ao lado do real conflito económico actual.

A situação paradoxalmente nasce do seu próprio sucesso. A luta por melhores condições correu demasiado bem e vários sectores profissionais conseguiram posições de privilégio. Isso empolou o Estado e precipitou a crise. Nas dificuldades nacionais, esses interesses lutam para conservar direitos egoístas. É um processo que aliás o materialismo dialéctico explica bem. A instalação no poder das forças antes oprimidas transforma as circunstâncias infra-estruturais, e elas passam de revolucionárias a conservadoras. Segundo o Manifesto Comunista de 1848, foi o que sucedeu à burguesia depois de vencer a sociedade feudal. Foi também o que se verificou com a nomenklatura na ex-URSS. É perturbador considerar deste prisma o nosso descalabro orçamental.

Esta degradação das forças de extrema-esquerda é grave. No equilíbrio português, o contributo dessas tendências para o progresso nacional é importante, elemento da saudável diversidade de posições. A sua evidente cumplicidade com os dinheiros públicos subverte-lhes a missão. Se os sindicatos passam a meros grupos de interesse e os partidos marxistas ficam defensores de burocratas e subsídios, abre-se um vazio na nossa estrutura socio-política, com largas massas perdendo a sua representação. Quem defenderá os trabalhadores, contribuintes, utentes, consumidores e cidadãos pobres que alimentam as despesas públicas sumptuárias?

Na década de 80, a esquerda sofreu a primeira grande crise, perdendo ideiais e instrumentos. "Sociedade sem classes", "ditadura do proletariado", "revolução popular" são hoje conceitos arcaicos e risíveis, abandonados na luta política séria. Mas, apesar da crise, a esquerda continuou a defender os interesses dos trabalhadores pobres.

Corporatizando-se agora, algumas dessas forças abandonam tal objectivo e sofrem uma segunda crise. Muito mais grave que a primeira porque é, não política, mas ética."

Thursday, October 20, 2005

PESADELO NO PAQUISTÃO

Reproduzo, na íntegra, o "despacho" da LUSA acerca da situação pós-sismo no Paquistão. Os homens de boa vontade aguardam pessimistas o apoio humanitário da grande potência a um país aliado na guerra do Iraque. Mas, após o Katrina, já ninguém acredita nas capacidades da administração Bush para coisa nenhuma. Cada um que se governe pois, neste caso, o "inimigo" é a natureza cuja crueldade escapa aos desígnios dos governos. Palavras para quê?

"Sismo: ONU vive "pior pesadelo logístico" de sempre no Paquistão

Genebra, 20 Out (Lusa) - A ONU vive no Paquistão o "pior pesadelo logístico", de sempre, "pior" do que depois do maremoto que afectou 11 países em 2004, devido à falta de auxílio, afirmou hoje o coordenador da ajuda humanitária de urgência das Nações Unidas.

"Não é o suficiente. Nunca vivemos este tipo de pesadelo logístico. Pensávamos que o tsunami era o pior que poderíamos viver. Este é pior", afirmou Jan Egeland à imprensa.

Depois do sismo de 08 de Outubro, que fez mais de 48.000 mortos e pelo menos três milhões de deslocados no Paquistão, a ONU pediu um total de 272 milhões de dólares (cerca de 227 milhões de euros) para as vítimas, e anunciou terça-feira ter recebido a promessa de 50 milhões de dólares (cerca de 42 milhões de euros) em donativos.

Segundo o coordenador da ONU, pelo menos 500.000 pessoas continuam isoladas nas montanhas do Caxemira paquistanês, 12 dias depois do sismo de magnitude de 7,6 na escala aberta de Richter, que abalou também, embora com menor intensidade, a Índia e o Afeganistão.

A comunidade internacional deverá criar uma "segunda ponte de Berlim", advertiu o coordenador, referindo-se à ponte aérea que permitiu levantar o bloqueio de Berlim, no final da década de 40.

Segundo a ONU, cerca de três milhões de pessoas estão desalojadas desde o sismo que, de acordo com um balanço hoje divulgado pelo chefe de operações de auxílio, general Farooq Ahmad Khan, fez 49.739 mortos e 74.000 feridos.

"O sismo, que abalou três países, torna-se pior a cada dia que passa, à medida que surge a necessidade de auxílio", disse Egeland.

"O mundo não está a responder como devia", considerou o responsável, alertando para a gravidade de uma interrupção de auxílio em Dezembro, quando o Inverno e a neve chegarem à região.

"Está em jogo a vida de dezenas de milhares de pessoas, elas poderão morrer se não chegarmos a tempo", insistiu.

A ONU recebeu até ao momento 86 milhões de dólares (72 milhões de euros) de promessas de donativos, em resposta ao apelo 272 milhões de dólares para fundos a favor das vítimas.
Este montante não abrange os auxílios bilaterais que foram dados directamente ao Paquistão por outros países.

Está agendada para 26 de Dezembro uma reunião de países doadores consagrada ao auxílio ao Paquistão.

O sismo de 26 de Dezembro de 2004 provocou a morte de pelo menos 217.000 pessoas em 11 países do Oceano Índico, deixando cerca de 1,5 milhões pessoas desalojadas. Nessa altura, a ONU recebeu a promessa de mais de 12 mil milhões de dólares (cerca de 11 mil milhões de euros) em auxílio.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) tinha lançado o alarme quarta-feira ao anunciar que dezenas de milhares de crianças correm o risco de morrer, nas próximas semanas, se o auxílio não chegar às localidades mais recônditas do norte do Paquistão.

Segundo a UNICEF, cerca de 120.000 crianças continuam isoladas nas montanhas do lado do Paquistão, das quais 10.000 poderão morrer de fome, hipotermia e doenças. "A acção humanitária está a tornar-se mais difícil à medida que os dias passam", afirmou a directora executiva da UNICEF, Ann Veneman, em Copenhaga, onde visitou o depósito central do organismo na cidade.

"Há ainda muito poucos helicópteros para chegar às mais de 1.000 aldeias isoladas com mantimentos de que as crianças necessitam urgentemente. Nos locais onde temos fornecimentos são muito poucas as organizações parceiras no terreno para distribuir às pessoas mais necessitadas", adiantou.

A responsável referiu que o acesso às zonas tem sido muito difícil porque as estradas estão impedidas com pessoas que tentam abandonar as zonas montanhosas e com terra e lama. Para as pessoas que consigam sair das montanhas, Ann Veneman alerta para a necessidade de criar nas regiões planas campos de acolhimento de grandes dimensões que consigam abrigar os desalojados durante o Inverno.

É também necessário reforçar o número de organizações nacionais e internacionais no terreno, indispensáveis para uma grande operação humanitária, segundo a responsável, que salientou a necessidade de disponibilizar até ao Inverno ajuda médica e hospitalar de urgência que substitua as infra-estruturas de saúde destruídas pelo sismo."

MV.
Lusa/Fim


(Sublinhados de minha responsabilidade).

Tuesday, October 18, 2005

Espanha - El inaplazable reto del "made in Spain"

Continuando a reflexão acerca da situação espanhola no âmbito da tecnologia, ciência e inovação, o "El País", de hoje, aprofunda o seu diagnóstico implacável.

"España es un 20% menos rica por la falta de inversión en I+D

El conjunto de las empresas privadas 'tira' de la investigación mucho menos que la media de los países de la Unión Europea


El salto adelante que propone el Gobierno sólo tendrá éxito si la empresa privada abandona su tibieza investigadora y acompaña a los poderes públicos en ese esfuerzo extraordinario. España precisa, desde luego, de una mayor y mejor financiación pública, pero, sobre todo, de una cultura empresarial de compromiso con la investigación aplicada.

El fútbol goza de mayor relevancia social en España que la ciência

La mayoría de los ejecutivos no ve en la Universidad un motor de desarrollo económico

La tibieza investigadora de la empresa privada obliga al sector público a cargar con el esfuerzo

Aunque produce más trabajos científicos que los EE UU, la Unión Europea tiene un nivel de productividad empresarial sensiblemente inferior. Es la denominada "paradoja europea" que tanto preocupa a los economistas y a los políticos comunitarios. En el caso español, puede hablarse de la misma paradoja europea pero elevada al cuadrado. Resulta que con el 8% del PIB de la Comunidad Europea y el 2,7% de todas las publicaciones mundiales, España apenas dispone del 1% de las patentes de la UE. El déficit investigador en el sector empresarial -sólo uno de cada cinco científicos españoles trabaja en el sector privado- hace que nuestro país se sitúe en el pelotón de cola europeo también en número de investigadores (5 por cada 1.000 habitantes, la mitad que Suecia), por delante únicamente de Grecia, Portugal e Italia.

Admitido que, como establece en su informe la Confederación de Sociedades Científicas de España (Cosce), el apoyo de los poderes públicos a la investigación en nuestro país ha estado caracterizado por la falta de continuidad, sujeto a la oportunidad que brindaban los momentos de bonanza económica presupuestaria, la principal falla del sistema es la debilidad de la inversión empresarial en este terreno. Lo dicen los diagnósticos de los expertos. Porque, con las objeciones que se quiera -"la política de ayudas fiscales sólo beneficia a las compañías con beneficios", "habría que liberar a las empresas de los pagos de la Seguridad Social durante 10 años, como en Francia"-, lo cierto es que España cuenta con un marco de incentivos favorable. De hecho, las empresas pueden desgravar hasta el 35% de su gasto en investigación.

Más aún: la política de subvenciones a la investigación empresarial ha resultado globalmente un fracaso y no faltan los casos en los que las compañías subvencionadas han destinado el dinero a otros menesteres, o se han limitado a invertir únicamente el dinero público destinado a I+D, vulnerando el principio de cada euro del erario público sea correspondido con otro de la empresa.

En el proyecto Ingenio 2010, con el que el Gobierno central pretende darle la vuelta a esta situación, se alude al problema en términos más delicados -"nuestro tejido industrial no aprovecha suficientemente el conocimiento generado por nuestro sistema de I+D"- que los que emplea el secretario de Estado de Universidades e Investigación, Salvador Ordóñez: "Hay que actuar urgentemente sobre la grave e histórica dificultad para integrar a las empresas en la I+D+i y sobre sus serias deficiencias para convertir los resultados científicos en beneficios económicos y sociales".

¿Cómo conseguir el objetivo, modesto en relación a los de los otros países de la UE, de que la participación empresarial alcance en 2010 el 55%, al menos, del total de la inversión en I+D? Según la fundación para la investigación tecnológica, Cotec, que reúne a 80 empresas coordinadas por el ex presidente del BBV, José Ángel Sánchez Asiain, la inversión empresarial española crece en los últimos años al 13% anual y ya ha recortado sensiblemente su diferencial con la media europea, aunque, dado el enorme retraso existente, ese objetivo no se alcanzará al ritmo actual hasta dentro de dos décadas.

Un país que no crea emprendedores

La primera explicación viene de la mano del propio tejido industrial. España tiene pocas empresas con capacidad de invertir grandes sumas en I+D puesto que el 99% de su parque empresarial lo componen las pequeñas y medianas compañías. Por necesidades evidentes de la competencia exterior, las grandes firmas invierten, por lo general, mucho más que el porcentaje medio, pero como en conjunto son pocas, la suma resultante es extremadamente baja.

"Además", subraya Isabel Lozano, directora de PharmaMar, "la estructura empresarial en España está centrada en el sector servicios, el turismo, todavía en expansión, que, por lo visto, no exige grandes esfuerzos en I+D". Tampoco el negocio de la banca -España cuenta con bancos poderosos y de presencia internacional- parece requerir elevadas inversiones en este terreno. "En lugar de una cultura de riesgo, lo que tenemos es un enorme miedo al fracaso que frena las iniciativas", comenta Cristina Garmendia, presidenta de la Asociación Española de bioempresas (Asebio) y directora de Genetrix.

¿Qué hay que hacer para lograr que las 2,5 millones de medianas y pequeñas empresas existentes -sólo el 24% tiene su propio sitio en Internet-, se aprovechen de un sistema que, como reconocen los expertos de la OCDE, dispone de centros públicos de investigación de primera línea? Su concurso es decisivo porque sostienen más del 70% de los puestos de trabajo y son ellas las que cargan con el peso de la economía.

Un primer obstáculo parece ser la falta de cultura emprendedora. "Tenemos un país que no crea emprendedores, ni fomenta la crítica constructiva. Tampoco hemos aprendido a ser heterodoxos y así es muy difícil que salgan los grandes creadores", comenta Salvador Ordóñez, secretario de Estado de Investigación. "Decididamente, la educación española no estimula la investigación. La ciencia habrá ganado en España el día en que los científicos ocupen parte del protagonismo que tiene el fútbol", apunta Joan Guinovart. Entre la comunidad científica hay una abierta crítica a la cultura del pelotazo, del dinero fácil y el mínimo esfuerzo, al hábito de popularizar a personajes de dudoso mérito y de mantener a la sociedad entretenida en el cotilleo y la frivolidad vacía.

¿Resulta ocioso o demagógico preguntarse por qué cualquier ciudadano, no necesariamente inculto o iletrado, puede nombrar de corrido a personajes y personajillos de las farándulas televisivas y de la prensa del corazón pero es incapaz de aportar el nombre de un solo investigador? ¿La ciencia en España sigue siendo un problema de cultura colectiva, tal y como dejó escrito Ramón y Cajal después de haber reflexionado largamente sobre el asunto?

Esperar a que innoven otros

Mientras la versión optimista confía en que habrá dinero privado para invertir, la pesimista se remite a la experiencia de estos últimos años y concluye que el inversionista español seguirá pensando en la ganancia rápida, mirando a las construcciones que pueblan el sur y el levante costero español. "No hay inversión privada, pero yo creo que sí hay interés. Lo que pasa es que las empresas españolas de biomedicina, por ejemplo, somos muy jóvenes y, salvo casos contados, todavía no hemos tenido tiempo de demostrar que invertir en nosotros puede ser un buen negocio", señala Cristina Garmendia. "Al capital hay que presentarle expectativas de ganancia, porque no olvidemos", subraya, "que esto también es un negocio".

Hay comportamientos, sin embargo, que vienen a galvanizar los ánimos de los científicos. Constituidas como fundación privada, cinco empresas ajenas al sector farmacéutico: El Banco Santander, La Caixa, el Corte Inglés, Inditex y PRISA se han comprometido a aportar en los próximos 10 años, un total de 170 millones de euros, el 40% de la inversión total, para convertir al Centro Nacional de Investigaciones Cardiovasculares en el principal instituto de investigación cardiovascular de Europa. El nuevo CNIC estará dirigido por el cardiólogo Valentín Fuster, actual director del Instituto Cardiovascular de la Mount Sinai School of Medicine de Nueva York. También el Centro de Investigación Médica Aplicada de la Universidad de Navarra (CIMA), que da trabajo a 300 científicos de 16 países, constituye igualmente una valiosa apuesta del capital privado.

"El problema de la investigación empresarial", explica Joan Esteban, del Instituto de Análisis Económico, "es que mientras los costes son inmediatos, los beneficios son futuros e inciertos ya que nada ni nadie te asegura contra la posibilidad de que la competencia se te adelante y patente el invento. Las grandes empresas pueden diversificar la investigación internamente y asegurarse un promedio de rentabilidad, pero las pequeñas y medianas", subraya, "se enfrentan a un riesgo que consideran excesivo y no invierten porque creen que les sale más a cuenta esperar a que innoven otros". El "síndrome de la virginidad estatal", la idea de que lo público se prostituye forzosamente al contacto con lo privado, ha retrasado la puesta en marcha de fórmulas de colaboración provechosas que permitan a las empresas adquirir tecnología reduciendo notablemente el riesgo de la inversión en I+D.

Torres que se desploman

Claro que el paso previo, elemental, es conseguir que todas las pequeñas y medianas compañías -solo el 36% de las que tienen menos de 10 empleados disponen de Internet- estén conectadas a la sociedad de la información. Dentro también del plan nacional de investigación a aplicar en la presente legislatura, el Gobierno ha destinado 200 millones de euros a los proyectos tecnológicos de cooperación entre empresas y universidades u organismos públicos. La casi totalidad de ese dinero serán créditos reembolsables, pero está vez se pretende que la obligatoriedad de presentar avales por el valor de los créditos deje de ser un obstáculo. Así y todo, los jóvenes investigadores se quejan de que las ayudas públicas van dirigidas a los proyectos y científicos consolidados y que no ofrecen una verdadera oportunidad a los que empiezan desde abajo.

Tim Smithers, director del programa robot Mirela, uno de los experimentos presentados junto al proyecto Ingenio 2010, vino a San Sebastián hace 12 años siguiendo los pasos a una becaria española, hoy su mujer, que hizo su curso de posgraduado en Inglaterra. Pese a su experiencia y su formación en Cambridge, el británico no ha logrado una plaza de catedrático en la Universidad del País Vasco, debido, dice, a los obstáculos burocráticos que impiden, generalmente, a los extranjeros acceder al sistema académico español. Da clases en la Escuela de Ingenieros y sólo dedica unas horas semanales a ese proyecto estrella: un robot que responde al lenguaje universal de las notas musicales.

Su diagnóstico no es diferente al de sus colegas españoles. "En España hay gente buenísima que está en lo más alto, pero falta la estructura, la pirámide, y no hay masa social suficiente. Los grupos dependen muchísimo del jefe y si éste se larga, por ejemplo, a EE UU, la torre se viene abajo. El orden jerárquico es muy riguroso y a la gente nueva que empieza no le llega el dinero. No hay cultura de investigación aplicada a la empresa, ni una relación fuerte entre universidad e investigación. El investigador está en la universidad o en el centro tecnológico, no en la empresa, y el profesor universitario vive volcado en la publicación de su trabajo. Ahí, se acaba todo. Como la empresa no participa, tampoco se sabe qué es lo que necesita".

No es la ciencia por la ciência

Esa es, precisamente, la pregunta que la Fundación C Y D (Conocimiento y Desarrollo), constituida por un grupo de empresas españolas en diciembre de 2002 bajo la presidencia de Ana Patricia Botín, ha planteado a 404 directivos. La conclusión no deja en buen lugar a la Universidad española, puesto que la mayoría de los ejecutivos no ven en ella a un motor de desarrollo económico, ni creen que su organización actual facilite esa función. En general, la empresa reprocha a la Universidad que forme titulados ignorando los criterios de practicidad y aplicabilidad que demanda el tejido industrial.

"La finalidad no es la ciencia por la ciencia, sino su aplicación para el provecho de la sociedad", proclaman. Según esas opiniones, la Universidad no aporta una formación sólida de contenido científico y de aplicaciones polivalentes, tampoco potencia suficientemente los contenidos técnicos, ni fomenta el buen conocimiento de los idiomas modernos, la informática y la actividad comercial. Como dejó escrito Louis Pasteur (descubridor de la vacuna): "No hay ciencia básica y ciencia aplicada, lo que hay es aplicación de la ciencia". Y a su vez, es cierto también que los doctores universitarios no acostumbran a ver en la empresa una salida profesional y que muchas compañías no valoran, en absoluto, la titulación.

"Las universidades están obligadas a asumir nuevas funciones, en la medida en que la economía de la innovación permanente les asigna un papel protagonista. Tienen que interrelacionarse con el sector productivo y crear sus propias empresas", destaca el secretario de Estado de Universidades e Investigación, Salvador Ordóñez. "Debemos combatir la idea de que la docencia es la misión más genuina de la universidad (...)". "Docencia e investigación son actividades complementarias. Todo profesor debe investigar e impartir docencia", se indica, a su vez, en el informe que los científicos han presentado al Ejecutivo.

La rentabilidad social del I+D

También Isabel Lozano, directora de PharmaMar, la empresa del grupo Zeltia especializada en el descubrimiento y desarrollo de fármacos de origen marino, opina que el investigador tiene pocos incentivos para meterse en un proyecto empresarial. "En general, no tiene acceso al capital para financiar proyectos. Si en Zeltia hemos conseguido créditos", dice, "es porque contamos con bienes tangibles y empresas químicas de liderazgo y gran consumo. De los 325 millones de euros que hemos invertido desde 1986, un 5% corresponde a ayudas públicas, pero lo hemos utilizado muy bien y no nos hemos arrugado ante las multinacionales. Creo que se ha demostrado que con perseverancia en la investigación y la inversión y centrándose en un área concreta se puede dar la batalla y eso que crear un nuevo fármaco exige normalmente una inversión de 800 millones de dólares y más de 10 años de trabajo". El de Zeltia, empresa que se ha internacionalizado y ha salido a Bolsa es, efectivamente, un raro ejemplo, porque la característica de la empresa española es que aunque mejora su tecnología de producción, no elabora nuevos productos con la intensidad con que lo hacen la mayoría de las europeas.

Para incentivar a las empresas, Joan Esteban propone que las empresas que cotizan en Bolsa tengan que elaborar balances de su capital tecnológico y presentarlos junto a sus resultados contables. De acuerdo con sus análisis, las ayudas públicas van dirigidas preferentemente a las grandes empresas y no verdaderamente a las que las necesitan. "La explicación de la ineficiencia de la política llevada hasta ahora es que las decisiones públicas están fuertemente influidas por los grupos de presión que forman las grandes compañías", indica.

El tamaño de la empresa media española y su tibieza investigadora parecen condenar a las Administraciones públicas a cargar con el mayor peso de la inversión, pero ¿hasta qué punto se justifica la transferencia de dinero público a entidades privadas, no es también una manera de contaminar la libre competencia? La respuesta de los expertos es que esa inversión pública está plenamente justificada. "Es evidente que la inversión en I+D y en capital humano desempeña un papel clave en el crecimiento económico, lo que ocurre es que en este caso el mercado tiene dos fallos importantes que justifican el apoyo público. En primer lugar, el retorno que obtiene la empresa generadora de conocimiento es inferior al retorno que obtiene la sociedad. Y en segundo lugar, el riesgo de que la investigación no alcance su objetivo es tan grande que resulta necesario dotarle de una prima muy alta", indica Isabel Lozano.

"La rentabilidad social del I+D es muy superior a los beneficios privados que produce, muy particularmente en España", subraya, asimismo, Joan Esteban. "La investigación tiene la naturaleza de bien público porque la mayor parte del beneficio que genera trasciende ampliamente al ámbito de la empresa para situarse en el resto de la industria y en el conjunto de la sociedad. Según nuestro estudio, si desde 1970 España hubiera invertido anualmente en I+D el mismo porcentaje del PIB que la media de los países de la OCDE, hoy tendríamos un 20% más de renta per cápita".

JOSÉ LUIS BARBERÍA
EL PAÍS - España - 18-10-2005

Monday, October 17, 2005

Espanha "Se buscan 60.000 Científicos"

Dou a conhecer um artigo, publicado no "El País", de hoje, no qual se expoem as preocupações dos espanhóis acerca do seu atraso no plano tecnológico. É muito útil para comparar com os projectos portugueses na mesma área, aliás bandeira política do govrno socialista, que se deverão espelhar no OE, para 2006, que será apresentado hoje mesmo.

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"Ésa es la cifra (60.000) que calculan los expertos para permitir que España se suba al tren tecnológico. Mientras tanto, el crecimiento de la economía puede ser sólo un espejismo a medio plazo

La investigación científica se ha convertido en la palanca que marca diferencias en el crecimiento económico. Aunque el conocimiento y la información han sido siempre fuentes de riqueza y poder, nunca habían adquirido un papel tan relevante en el mercado. España se la juega en unos pocos años si quiere alcanzar el tren de la nueva economía.

España dedica a I+D la mitad que Francia y una tercera parte que EE UU


En 2000 registró poco más de 100 patentes, frente a las 6.000 de Alemania y las 15.000 de EE UU


Ni hay dinero ni sobran ideas. Sólo hemos producido un verdadero genio, Ramón y Cajal Deprisa, deprisa, hacen falta 60.000 nuevos investigadores antes de que finalice esta década, hay que recuperar o incorporar a otros 900 científicos de prestigio internacional, tenemos que crear grandes infraestructuras tecnológicas y convencer a las empresas y al conjunto de la sociedad de que la investigación propia es el valor añadido que nos asegura la prosperidad.

Avisada ya del peligro por la persistente pérdida de productividad y competitividad exterior, y por el aumento del déficit comercial, España reacciona como acostumbra a hacerlo en los momentos comprometidos: tarde, desde luego, pero intentando la hazaña, el gran salto adelante que debe permitirle salvar el retraso acumulado. Ese salto, un vuelo de cinco años, está encaminado a trasladar a nuestro país a la privilegiada orilla de las economías que se blindan frente a la competitividad globalizadora creciente, renovando su apuesta por la innovación tecnológica. ¿Conseguirá España enterrar definitivamente la morbosa leyenda negra de su pobre disposición para la investigación científica, conjurar el resentido maleficio unamuniano del "que inventen ellos", superar ese secular complejo de inferioridad ante las ciencias aplicadas y experimentales que, contra la evidencia demostrada en tantos casos, continúa adherido a la piel de este país?

Aunque, por ahora, no es oro todo lo que reluce en los reforzados presupuestos gubernamentales -buena parte del aumento son créditos reembolsables a largo plazo con interés cero, no subvenciones-, entre la comunidad científica circula una brisa expectante, vivificadora. ¿No es extraordinario que los investigadores españoles, genuinos francotiradores de la ciencia más que gentes de equipo, hayan salido de sus parapetos para organizarse a campo abierto? Por una vez, nuestros científicos abandonan la narración lacrimógena de sus conocidas miserias, mudan el rictus amargo de la vieja frustración heredada y transmitida por todos aquellos, desde Juan de la Cierva hasta el último de los actuales becarios sin derecho al desempleo, que han constatado que investigar en España es, muchas veces, llorar.

Ellos ya han dado un primer paso: tomar la iniciativa, evaluar la situación, detectar las fallas del sistema, lanzar propuestas. "Hemos organizado un ejército de 30.000 científicos que va a pelear para que España no pierda el tren del futuro, que es la economía basada en el conocimiento", proclama el presidente de la Confederación de Sociedades Científicas de España (Cosce) y director del Parque Científico de Barcelona, Joan Guinovart. "La armada científica más potente que ha existido nunca en este país", como dice él, ha puesto sobre la mesa del Gobierno un amplio informe, fruto de un año de reflexiones, consultas y estudios, que habla, desde luego, de dinero, -"no investigar se pagará mucho más caro"-, pero también de la necesidad de flexibilizar los estamentos de la política científica, de mejorar la formación de los investigadores y hasta de cambiar la mirada, distraída y distante, con que la sociedad contempla a la ciencia.

El periodo mágico

Hay esperanza, entre otras cosas, porque el precedente de la política de inversiones y becas a los posgraduados puesta en marcha a mediados de los años ochenta demostró sobradamente el talento de los investigadores que completaron su formación en centros internacionales. Aunque sin continuidad posterior, y de ahí viene el retroceso relativo acumulado en la última década, aquello constituyó un gran avance. "Duplicar el presupuesto de I+D, que entonces estaba en un raquítico 0,4% del PIB, dio paso a un periodo mágico. Fue como un descubrimiento: de repente, los españoles empezamos a pintar algo en la ciencia; en poco tiempo llegamos a publicar el 3% de los trabajos científicos mundiales", señala Carlos Martínez Alonso, presidente del Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), el principal organismo de investigación.

Muchos de aquellos cientos de jóvenes investigadores optaron por quedarse en sus países de adopción porque encontraron allí los medios, los salarios y la proyección profesional que les negaba su patria, pero los que volvieron crearon los pilares sobre los que se asienta hoy la ciencia en España. "Estamos viviendo de la cosecha de los años ochenta, así que tenemos una comunidad científica envejecida que urge rejuvenecer y ampliar. Nuestra edad media está entre los 50 y los 55 años y los jóvenes que llegan a nuestro centro rondan ya generalmente la cuarentena", apunta el director del CSIC. La idea, bastante extendida, de que el momento de máxima creatividad científica se produce normalmente en la treintena no anula el propósito de recuperar a buena parte de los investigadores españoles asentados en el extranjero.

"Necesitamos a todos los talentos que tenemos fuera, independientemente de su edad, necesitamos de todo su ingenio, su prestigio y su experiencia porque, sencillamente, España se juega su papel en el mundo. Es ahora o nunca", enfatiza, a su vez, Joan Guinovart, director de Cosce.

Gran parte de sus colegas comparten, en efecto, la impresión de que el tiempo de los esfuerzos voluntariosos y esporádicos se acaba y que sólo una enérgica y sostenida reacción puede permitir a la investigación española sobrevivir en los tiempos venideros. "Señor presidente, siento decirle que nos queda poco tiempo. La ventana de oportunidad temporal puede durar lo que su actual legislatura. Aproveche la ocasión. Si no lo hace, probablemente será mejor que dedique los recursos a otros temas, ya que muy probablemente seremos dependientes tecnológicamente en muchos sectores durante el siglo XXI", indica Francisco Bas, ex secretario general de Asebio (Asociación Española de Bioempresas), en la carta que ha enviado al presidente del Gobierno.

El triángulo del conocimiento

"Habrá dinero", ha asegurado José Luis Rodríguez Zapatero: más becas, más contratos, más subvenciones. El Estado incrementará en un 25% como mínimo su presupuesto anual de I+D+i (investigación, desarrollo, innovación) con el propósito de que en 2010 el conjunto de la inversión pública y privada sume 19.000 millones de euros, el 2% del producto interior bruto (PIB), prácticamente el doble de lo que ahora se gasta en España.

No llega a ser el 3% que la Unión Europea se fijó como objetivo para esa misma fecha de 2010 en el Consejo de Lisboa, y seguiremos estando muy lejos de las cifras de Estados Unidos, Japón, Corea o los países nórdicos, pero ese salto permitirá a España reducir notablemente la brecha y acercar el horizonte de la convergencia con Europa, situada hoy a 20 años vista. Duplicar la inversión en I+D, esto es, pasar del actual 1,05% al 2% del PIB, es simplemente hacer los deberes elementales para poder disponer de la capacidad de investigación propia que le correspondería a España por su peso en la economía mundial. Porque si hablamos en términos absolutos, nos encontramos con que, de acuerdo con el estudio realizado por Main Science & Technology en 2001, España invierte en I+D un total de 9.400 millones de dólares en un año, mientras que Francia gasta 38.000; Alemania, 54.300; Japón, 106.900, y Estados Unidos, 277.100.

El "triángulo del conocimiento", formado por la educación, la investigación y la innovación, entendida esta última como transferencia de conocimiento a la empresa, se erige en la piedra angular de la nueva economía de los países desarrollados.

Lo que está en juego en España es el bienestar futuro de una sociedad que crece y genera empleo, efectivamente, pero en base a un modelo descompensado, dependiente de la construcción y de la demanda interna, que le lleva a retroceder significativamente en los indicadores mundiales de competitividad y le incapacita para superar la prueba obligada de los mercados exteriores. La pregunta lógica es hasta cuándo podrá sobrevivir ese modelo en un mundo, el del "capitalismo de la innovación extensiva", que está pasando de la era industrial a la economía fundada en el saber.

A la cola del comercio electrónico

Ciertamente, con los datos en la mano, el panorama se presenta preocupante. Pese al esfuerzo realizado a lo largo de las dos últimas décadas, la octava economía mundial por tamaño del PIB continúa a la cola de la inversión en I+D de los países desarrollados, incrementando su dependencia tecnológica. Según el informe Factbook 2005 de la OCDE (Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico), España dedicó en 2000 a la "inversión en conocimientos", concepto que engloba los gastos en I+D, en educación universitaria pública y privada y en nuevas tecnologías, el 2,5% de su PIB, poco más de la mitad de lo que lo hicieron países europeos como Alemania (4,8%) o Francia (4,6%), y mucho menos que Corea (5,4%) o EE UU (6,8%).

Aunque la economía española supone el 8% de la economía de la Unión Europea a 15, somos los que menos invertimos en equipamiento tecnológico en el sector de la producción, y nuestro comercio electrónico (Internet) es el menos activo de toda la Comunidad Europea, menos también que Portugal y Grecia, los países con los que tantas veces España comparte el pelotón de cola.

Visto así, no deja de ser sorprendente que la ciencia española haya logrado asomarse en algunos de los terrenos reservados a la élite mundial. Porque las cifras que dan cuenta de nuestra pobre inversión, tanto en I+D como en formación -somos también uno de los países europeos que menos gasta por estudiante-, están lejos de mostrar la calidad de la investigación básica en nuestro país.

Y, por lo mismo, la idea de subdesarrollo científico que sugieren los datos sólo tiene sentido como reflejo de que la apuesta inversora no se corresponde con el potencial económico y humano del país, ni atiende al reto planteado a las sociedades desarrolladas.

España es una potencia media tecnológica que suple sus graves carencias propias recurriendo al mercado internacional. El problema es el futuro, el peligro de que los sectores productivos sean incapaces de competir en costes en un mundo que está haciendo de la tecnología su gran valor añadido.

De hecho, las advertencias de los analistas internacionales han empezado a multiplicarse: "España corre el riesgo de perder competitividad y de sufrir un retroceso tecnológico", apuntan expertos de la OCDE y de la ONU. "Los países como España que han confiado su inversión a gran escala para la producción de tecnología media a compañías extranjeras dispondrán de un valor añadido en su producción relativamente bajo y serán más vulnerables a la amenaza competitiva de los países de fuera de Europa", sostiene Luis A. Walter, socio responsable del área de Mercados Industriales y Automoción de KPMG en España. Un estudio de esa misma compañía muestra que la clave para superar el reto de la producción a bajo coste es asegurarse de que los productos vayan un paso por delante de los que fabrican las regiones industriales emergentes. Los perdedores serán las compañías que no hayan invertido en I+D.

El país de la fregona

El caso de España emite señales alarmantes porque, además, su número de patentes (los derechos de explotación en exclusiva de un invento por un periodo determinado) alcanza cifras paupérrimas. Según la misma OCDE, España registró en 2000 un total de 113 patentes, frente a las 1.794 del Reino Unido, las 5.777 de Alemania o las 14.985 de EE UU. Y las cosas no han cambiado significativamente en ese aspecto clave. Son datos desalentadores que parecen abonar el pesimismo histórico español. "Aquí no se ha inventado otra cosa que la fregona y el chupa-chups", se dice a menudo, con una mezcla de frustración y desprecio. Es un comentario doblemente injusto, en la medida en que ignora los importantes logros obtenidos por la ciencia española en estos últimos años y desprecia, de paso, los pocos ejemplos existentes de ingenio aplicado a la industria. Hay quien considera un sarcasmo que el inventor de la fregona y de la aguja desechable, Manuel Jalón, haya sido incluido, alguna vez, entre el selecto y diminuto grupo de investigadores españoles reconocidos por la historia: Ramón y Cajal (la neurociencia), Isaac Peral (el submarino), Miguel Servet (la circulación de la sangre), Juan de la Cierva (el autogiro).

Con toda su aparente modestia, la fregona puso en pie a millones de mujeres en todo el mundo y facilitó la incorporación del hombre a estas tareas. Su artífice merecería, quizás, un reconocimiento más franco, no condicionado por el viejo complejo español que tiende a infravalorar o a desconfiar de lo propio. Cristina Garmendia, directora de Genetrix y presidenta de la Asociación Española de Bioempresas (Asebio), recuerda muy bien la reacción que obtuvo al presentar su primer proyecto de patente al Consejo de Administración: "Y si es una cosa tan buena, ¿cómo es posible que no la hayan descubierto los americanos o los alemanes?". El gran golpe de timón de la investigación española debería ir acompañado de un cambio de mentalidad general que, además de acabar con la inclinación a mortificarse, a recrearse vanamente en las deficiencias domésticas, conduzca a armarse de determinación y a apreciar en lo que vale el trabajo de las 70.000 personas que sostienen la investigación española y la calidad de centros y los experimentos en marcha.

España no está sobrada, precisamente, de descubrimientos aplicables a la industria, de la misma manera que, contra lo que proclama el recurrente mito-refugio ("A los españoles nos sobran las ideas, lo que nos faltan son medios"), tampoco es evidente que los genios abunden entre nosotros. Lo dice el presidente del CSIC, Carlos Martínez: "Ni nos sobran las ideas, ni contamos con grandes genios. Somos un país de toreros, francotiradores y guerrilleros, tipos duros, individualistas, acostumbrados a sobrevivir en la penuria financiera, pero sólo hemos producido un auténtico genio, Ramón y Cajal, un personaje extraordinario que sin otros medios que la observación personal dio el gran salto cualitativo y descubrió de la nada la neurociencia. Hay que cambiar el sistema de reparto del dinero, que fomenta el individualismo: cinco señores reciben más subvenciones cada uno por su lado que si formaran equipo. Pero también los científicos tenemos que cambiar, porque la ciencia ya no es el resultado de personajes singulares, sino un proceso de avances continuos".

Ahora, el genio es el que trabaja y sabe hacerlo en equipo. Aunque la investigación sigue requiriendo personalidades singulares, necesita también, cada vez más, visiones alternativas y complementarias. "Para que se produzca un cambio", indica, "hace faltan antes los avances que crean el nuevo espacio". Es una opinión compartida por Joan Guinovart: "La ciencia moderna se ha convertido en un asunto de los ejércitos regulares de científicos y por eso la guerra de guerrillas, tan española, ya no tiene sentido. Al mismo tiempo, tenemos que acabar", apunta, "con la costumbre de la tutela que ejercen las figuras en España y que hace que los jóvenes y no tan jóvenes vivan a la sombra de un protector, dependiendo de él para todo: financiación, laboratorios, contactos... No, señor: si sale un tipo bueno, hay que darle un laboratorio, dinero y una plaza. Y lo mismo si son dos, tres o los que sean".

El talón de Aquiles

La cifra de patentes pone al desnudo, desde luego, la enorme laguna de la ciencia aplicada española, pero sigue siendo un reflejo engañoso, injusto, del nivel real de la investigación en nuestro país. En primer lugar, porque los investigadores españoles no están mal situados en lo que se refiere a la publicación de sus trabajos en las revistas científicas de prestigio, un indicador siempre elocuente de la calidad de la actividad investigadora. Disponer del 2,7% de los artículos científicos publicados en el mundo puede ser, efectivamente, un dato aceptable para un país que cuenta con el 2% de la riqueza mundial en términos de PIB. Aceptable, sí, aunque, como matiza Carlos Martínez, una cosa es la cantidad, otra la calidad y otra la utilidad de esos trabajos para el tejido industrial.

"Publicamos, sobre todo, perfeccionando las aportaciones de otros y hacemos pocas cosas muy importantes. No tenemos campeones, no tenemos un Alonso de la ciencia, no hay una asociación clara entre publicaciones y patentes", dice el director del CSIC. A juicio de Cristina Garmendia (directora de Genetrix), el problema es que "el investigador español no está mentalizado en la necesidad de proteger sus resultados porque hasta ahora se le ha juzgado exclusivamente por el número de sus publicaciones y no por el de sus patentes".

"¿Qué pasa con la empresa española, se ha acostumbrado a pagar los royalties, cree que podrá sobrevivir sin innovar?". Es la gran pregunta que se hacen los responsables de la investigación científica. Porque no deja de ser paradójico que el número 1 en la titularidad de patentes -suyo es también el invento de las gulas, sucedáneo de las angulas- sea un organismo público como el CSIC y no la empresa privada. Así que se puede tener un nivel aceptable en la investigación básica y carecer de penetración en la investigación aplicada a la industria.

Ésa es la gran falla del sistema. Ocurre que las empresas españolas, las más interesadas, teóricamente, en desarrollar el I+D aplicado a sus productos, invierten proporcionalmente en investigación mucho menos que las compañías europeas, y no digamos nada que las norteamericanas. Mientras la financiación empresarial en el conjunto de la Unión supone de media el 58% del dinero efectivo destinado a I+D+i, en España ese porcentaje queda reducido al 48%, lo que obliga, a su vez, a los poderes públicos a hacer un esfuerzo presupuestario adicional muy superior. Ahí, en la atonía empresarial, está el principal talón de Aquiles de la investigación española."

JOSÉ LUIS BARBERÍA
EL PAÍS - España – 17-10-2005

Thursday, October 13, 2005

AINDA O BALANÇO DAS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS - OS COMENTÁRIOS

Curioso fenómeno o dos comentários aos resultados das eleições autárquicas: nunca são referidos os resultados!

Os dirigentes do PS comportam-se como derrotados, tendo sido vencedores; os dirigentes do PSD como vencedores, tendo sido derrotados; o PSD “esconde” a aliança com o CDS/PP; o CDP/PP esconde-se por detrás dessa aliança.

JPP em artigo, no “Público”, inicia assim a sua prosa: “O PSD ganhou as eleições, de forma inequívoca.” Ao longo do texto não surge um argumento objectivo, ancorado em qualquer análise dos resultados, que justifique tal asserção. Não apresenta um único número. Na mesma página, ao lado, Rui Moreira titula o seu texto: “A Rosa Murchou”, na mesma linha de argumentação, embora mais moderado, sem qualquer referencia aos resultados.

José António Lima, no “Expresso on line”, aventura-se na pura mentira afirmando: “Na verdade, o PS sofreu no passado domingo uma derrota política em toda a linha. Perdeu câmaras, perdeu mandatos, perdeu capitais de distrito, perdeu votos."

É pura mentira. O PS, em relação às eleições de 2001, não perdeu mandatos, ganhou mandatos; não perdeu votos, ganhou votos. Perdeu, de facto, em comparação com 2001, três presidências de Câmara e duas capitais de distrito, tendo ganho uma. A direita é que perdeu em toda a linha: perdeu 3 presidências de câmara; perdeu mandatos; perdeu uma capital de distrito e perdeu votos.

Finalmente Jorge Coelho, surpresa das surpresas, afirmou na “Quadratura do Círculo”, na “SIC-Notícias”, que os resultados do PS não tinham sido “catastróficos”. Pelos vistos as expectativas dos dirigentes do PS eram megalómanas. As escolhas de muitos candidatos consideradas de excelência. A política de alianças um primor de visão estratégica. Só essas falsas expectativas, alimentadas pelos dirigentes do PS, podem explicar a sua incapacidade para defender os resultados.

Como os números mostram o PS, objectivamente, obteve um bom resultado. O que acontece é que os dirigentes do PS falharam na gestão das expectativas e transformaram uma vitória ou, no mínimo, um bom resultado, numa derrota. Marques Mendes geriu melhor as expectativas e permitiu-se transformar um resultado medíocre numa vitória.

Os balanços das autárquicas, fundados num exercício extraordinário de omissão dos resultados das mesmas, integram-se, na perfeição, na pré-campanha presidencial de Cavaco. A ideia é simples: criar uma onda de derrotismo na esquerda e, em particular, no PS para abrir o caminho a uma entrada triunfal da candidatura presidencial de Cavaco.

Pode ser que nas eleições presidenciais se invertam as expectativas e, concomitantemente, a lógica de apreciação dos seus resultados finais.

Wednesday, October 12, 2005

A Derrota da Direita nas Eleições Autárquicas - 2005

Conhecidos os resultados finais das eleições autárquicas, divulgados pelo STAPE, confirma-se, em pleno, o contrário do que diz a propaganda da direita já em trabalhos de parto para a candidatura de Cavaco Silva.

Ainda ontem a SIC passava, em rodapé, a informação de que o PS perdera mais de 500.000 votos face às últimas legislativas. Ora não se podem comparar resultados de eleições de natureza diferente além do mais porque, que eu saiba, o PSD e o PP concorreram separados nas legislativas e coligados em grande número de autarquias o que inviabiliza a realização de comparações sérias entre os resultados das legislativas e das autárquicas.

Num post anterior, editado no absorto, escrevi:

“Mas o mais honesto é fazer a comparação com os resultados das eleições autárquicas de 2001 e tomados estes verificar-se-á um ligeiro recuo do PS (108 a 109 Presidências, em 2005, para 111 em 2001) e, da mesma forma, um ligeiro recuo do número de Presidências para o PSD/PP (159 a 160, em 2005, para 162 em 2001).”

Os resultados finais das eleições autárquicas de 2005, comparados com os de 2001, confirmam que o PS perdeu 3 Presidências de Câmara (109, em 2005, contra 112, em 2001) mas obteve mais votos, mais mandatos e uma percentagem superior.

Ou seja o PS, apesar de ter perdido 3 Presidências, cresceu para 1.930.191 votos, em 2005, contra 1.792.690 votos, em 2001; obteve, em 2005, 853 mandatos, contra os 825 obtidos em 2001 e 35,84% em 2005, contra 34,12%, em 2001.

A direita, PSD e CDS/PP, no conjunto (separados ou coligados), perdeu, igualmente, 3 Presidências de Câmara (159, em 2005, para 162, em 2001), perdeu votos (2.353.701 em 2001, 2.311.691, em 2005), perdeu mandatos (942, em 2001, contra 934, em 2005) e decresceu dos 45,84% em 2001, para 42,92, em 2005.

A esquerda (PS+PCP+BE) mantém uma maioria confortável face à direita, considerando o PSD+CDS/PP (sozinhos ou coligados), em número de votos (2.680.087 contra 2.311.691); em mandatos (1.063 contra 934) e em percentagem (49,76% contra 42,92%). Apesar desta maioria da esquerda em votos, mandatos e em percentagem, a direita obtém mais Presidentes de Câmara (159 contra 142).

Comparativamente com as eleições de 2001 a direita, em 2005, desce em todos os itens (votos, mandatos, percentagem e Presidentes de Câmara) e a esquerda sobe em todos os itens, incluindo em Presidências de Câmara, neste caso, à custa da conquista de mais 4 Presidências pelo PCP que compensam as 3 perdidas pelo PS.

Nestas contas são só considerados os resultados dos partidos (sozinhos ou coligados) que conquistaram Presidências de Câmara. A direita, se forem considerados todos os outros resultados marginais, aumenta ligeiramente a sua expressão. Mesmo que se considerem esses resultados e, ainda, em 2001, os resultados da coligação PS/PCP, em Lisboa, a correlação de forças não se altera no essencial.

Conclusão:

1 - A direita (e não o PSD), em 2005, é maioritária em número de Presidências de Câmara, como já era em 2001, mas perde expressão em votos, mandatos, percentagem e Presidentes de Câmara.

2- O PS recua ligeiramente, em número de Presidências de Câmara, face a 2001, mas melhora os seus resultados, em votos, mandatos e percentagem.

3- A esquerda no seu conjunto, cresce eleitoralmente, em todos os itens, face a 2001, sendo maioritária excepto em número de Presidências de Câmara.

4 - Nestas eleições autárquicas, comparadas com as 2001, a direita perdeu expressão eleitoral e, em contrapartida, a esquerda ganhou.

5 - As notícias em contrário são manifestamente falsas!

(Se alguém se der ao trabalho de conferir os números e algum estiver errado diga qualquer coisa.)

Friday, October 07, 2005

Bem vistas as coisas ...

“Conheço-me bem de mais para crer na virtude completamente pura.”

Albert Camus

Bem vistas as coisas, se fizermos uma análise sincera da contestação social às medidas anunciadas, e concretizadas, pelo governo socialista, muitas corporações sentir-se-iam bem mais confortáveis com um governo de direita.

Tantas vezes que se ouviu proclamar, nos três anos da governação de direita, entre Março de 2002 e Fevereiro de 2005, as vantagens espantosas da paz social. Nesse período foram raras as greves e escassa a contestação social.

Cresceu o deficit das contas públicas, elevando-se, afinal, mais alto do que aquele que resultou da celebrada herança de Guterres; cresceu a dívida pública; tornou-se mais extensa a lista de espera para as cirurgias; mostrou-se mais opaca a justiça; revelou-se mais ensarilhada a educação, mas o país pouco se manifestava nas ruas mantendo um manso ruminar de indignação na espera paciente de que algo acontecesse e deitasse abaixo o governo.

Clamava-se que eram necessárias, e urgentes, medidas de fundo, as chamadas reformas estruturais que movimentos cívicos, caídos no baú do esquecimento, condicionavam a “acordos de regime” para que pudessem ver a luz do dia.

Mas o país aspirava a uma maioria absoluta, nas urnas, dando ao poder político executivo a força para tomar as medidas difíceis. Ora aí está! A equação cuja resolução se ansiava por ver resolvida é simples de enunciar.

Baixar o deficit das contas públicas que se situará num valor superior a 6%, em 2005, para um máximo de 3% num curto período de 3 anos; logo conter as despesas do estado e aumentar as suas receitas.

Baixar a dívida do país face ao exterior para um patamar razoável que garanta a credibilidade de Portugal nos mercados financeiros internacionais e que não torne ainda mais pessimistas as expectativas dos agentes económicos.

Conter o desemprego, sabendo que não vai desacelerar, promovendo as medidas sociais que funcionem como almofada para a sobrevivência das classes mais desfavorecidas.

Confiar na clarividência da chamada classe média para o entendimento de que o que está em causa é a alternativa entre o afundamento do país numa crise sem regresso, com a ruína de muitos sectores da própria classe média, ou um compromisso em que todos os que usufruem de privilégios (ou “direitos adquiridos”) cedam uma parte dos mesmos para salvar o essencial do estado social.

Não entendem? Há que ter a coragem para fazer a pedagogia da política de austeridade e para exercer, quando for o caso, a autoridade do Estado. A direita que exerceu o poder, no governo, durante três anos, foi incapaz de executar as políticas reformistas que, a todo o tempo, proclamou. Faltou-lhe em coragem o que lhe sobrou em prepotência.

Hoje não há alternativa para prosseguir qualquer política, patriótica e de salvação nacional, fora do partido socialista e, muito menos, contra o partido socialista. Ou pensam viável um governo de “bloco central” ou uma coligação de todas as esquerdas que, em qualquer caso, tornaria o PS refém das corporações que agora, de forma aberta, se manifestam contra o essencial de todas as reformas?

O que está em causa não é já, somente, a salvaguarda dos princípios basilares do estado social, que carece de uma profunda reforma, mas o próprio regime democrático que urge dotar de uma autoridade que, a mais das vezes, convenhamos, lhe tem faltado.

As corporações, em Portugal, sejam de raiz pública ou privada, por razões históricas, dominam ou condicionam o Estado tendo capturado, em seu benefício próprio, muitas das suas funções essenciais.

Os democratas e os amantes da liberdade, mesmo aqueles que integram, profissionalmente, essas corporações, dão privilégio à força da inteligência (razão) e da persuasão (diálogo) não podendo deixar de subscrever as políticas reformistas para cuja aplicação concreta (e não em palavras!) se exigiria, de qualquer governo, coragem e determinação.

Bem vistas as coisas é o programa que este governo, no essencial, está a cumprir. Será suficiente? Uma velha conversa porventura mais actual do que muitos possam pensar pois o que já se vislumbra no centro do debate é a própria refundação do regime democrático cujos valores essenciais há que preservar a todo o custo.

É esta a questão central que carece de ser abordada, com serenidade e elevação, na disputa presidencial que se avizinha sem perder de vista que na vida, quanto mais na política, não há “virtude completamente pura”.

(Artigo publicado hoje, 7 de Outubro de 2005, no "Semanário Económico").