Reproduzo, na íntegra, o "despacho" da LUSA acerca da situação pós-sismo no Paquistão. Os homens de boa vontade aguardam pessimistas o apoio humanitário da grande potência a um país aliado na guerra do Iraque. Mas, após o Katrina, já ninguém acredita nas capacidades da administração Bush para coisa nenhuma. Cada um que se governe pois, neste caso, o "inimigo" é a natureza cuja crueldade escapa aos desígnios dos governos. Palavras para quê?
"Sismo: ONU vive "pior pesadelo logístico" de sempre no Paquistão
Genebra, 20 Out (Lusa) - A ONU vive no Paquistão o "pior pesadelo logístico", de sempre, "pior" do que depois do maremoto que afectou 11 países em 2004, devido à falta de auxílio, afirmou hoje o coordenador da ajuda humanitária de urgência das Nações Unidas.
"Não é o suficiente. Nunca vivemos este tipo de pesadelo logístico. Pensávamos que o tsunami era o pior que poderíamos viver. Este é pior", afirmou Jan Egeland à imprensa.
Depois do sismo de 08 de Outubro, que fez mais de 48.000 mortos e pelo menos três milhões de deslocados no Paquistão, a ONU pediu um total de 272 milhões de dólares (cerca de 227 milhões de euros) para as vítimas, e anunciou terça-feira ter recebido a promessa de 50 milhões de dólares (cerca de 42 milhões de euros) em donativos.
Segundo o coordenador da ONU, pelo menos 500.000 pessoas continuam isoladas nas montanhas do Caxemira paquistanês, 12 dias depois do sismo de magnitude de 7,6 na escala aberta de Richter, que abalou também, embora com menor intensidade, a Índia e o Afeganistão.
A comunidade internacional deverá criar uma "segunda ponte de Berlim", advertiu o coordenador, referindo-se à ponte aérea que permitiu levantar o bloqueio de Berlim, no final da década de 40.
Segundo a ONU, cerca de três milhões de pessoas estão desalojadas desde o sismo que, de acordo com um balanço hoje divulgado pelo chefe de operações de auxílio, general Farooq Ahmad Khan, fez 49.739 mortos e 74.000 feridos.
"O sismo, que abalou três países, torna-se pior a cada dia que passa, à medida que surge a necessidade de auxílio", disse Egeland.
"O mundo não está a responder como devia", considerou o responsável, alertando para a gravidade de uma interrupção de auxílio em Dezembro, quando o Inverno e a neve chegarem à região.
"Está em jogo a vida de dezenas de milhares de pessoas, elas poderão morrer se não chegarmos a tempo", insistiu.
A ONU recebeu até ao momento 86 milhões de dólares (72 milhões de euros) de promessas de donativos, em resposta ao apelo 272 milhões de dólares para fundos a favor das vítimas.
Este montante não abrange os auxílios bilaterais que foram dados directamente ao Paquistão por outros países.
Está agendada para 26 de Dezembro uma reunião de países doadores consagrada ao auxílio ao Paquistão.
O sismo de 26 de Dezembro de 2004 provocou a morte de pelo menos 217.000 pessoas em 11 países do Oceano Índico, deixando cerca de 1,5 milhões pessoas desalojadas. Nessa altura, a ONU recebeu a promessa de mais de 12 mil milhões de dólares (cerca de 11 mil milhões de euros) em auxílio.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) tinha lançado o alarme quarta-feira ao anunciar que dezenas de milhares de crianças correm o risco de morrer, nas próximas semanas, se o auxílio não chegar às localidades mais recônditas do norte do Paquistão.
Segundo a UNICEF, cerca de 120.000 crianças continuam isoladas nas montanhas do lado do Paquistão, das quais 10.000 poderão morrer de fome, hipotermia e doenças. "A acção humanitária está a tornar-se mais difícil à medida que os dias passam", afirmou a directora executiva da UNICEF, Ann Veneman, em Copenhaga, onde visitou o depósito central do organismo na cidade.
"Há ainda muito poucos helicópteros para chegar às mais de 1.000 aldeias isoladas com mantimentos de que as crianças necessitam urgentemente. Nos locais onde temos fornecimentos são muito poucas as organizações parceiras no terreno para distribuir às pessoas mais necessitadas", adiantou.
A responsável referiu que o acesso às zonas tem sido muito difícil porque as estradas estão impedidas com pessoas que tentam abandonar as zonas montanhosas e com terra e lama. Para as pessoas que consigam sair das montanhas, Ann Veneman alerta para a necessidade de criar nas regiões planas campos de acolhimento de grandes dimensões que consigam abrigar os desalojados durante o Inverno.
É também necessário reforçar o número de organizações nacionais e internacionais no terreno, indispensáveis para uma grande operação humanitária, segundo a responsável, que salientou a necessidade de disponibilizar até ao Inverno ajuda médica e hospitalar de urgência que substitua as infra-estruturas de saúde destruídas pelo sismo."
MV.
Lusa/Fim
(Sublinhados de minha responsabilidade).
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