Curioso fenómeno o dos comentários aos resultados das eleições autárquicas: nunca são referidos os resultados!
Os dirigentes do PS comportam-se como derrotados, tendo sido vencedores; os dirigentes do PSD como vencedores, tendo sido derrotados; o PSD “esconde” a aliança com o CDS/PP; o CDP/PP esconde-se por detrás dessa aliança.
JPP em artigo, no “Público”, inicia assim a sua prosa: “O PSD ganhou as eleições, de forma inequívoca.” Ao longo do texto não surge um argumento objectivo, ancorado em qualquer análise dos resultados, que justifique tal asserção. Não apresenta um único número. Na mesma página, ao lado, Rui Moreira titula o seu texto: “A Rosa Murchou”, na mesma linha de argumentação, embora mais moderado, sem qualquer referencia aos resultados.
José António Lima, no “Expresso on line”, aventura-se na pura mentira afirmando: “Na verdade, o PS sofreu no passado domingo uma derrota política em toda a linha. Perdeu câmaras, perdeu mandatos, perdeu capitais de distrito, perdeu votos."
É pura mentira. O PS, em relação às eleições de 2001, não perdeu mandatos, ganhou mandatos; não perdeu votos, ganhou votos. Perdeu, de facto, em comparação com 2001, três presidências de Câmara e duas capitais de distrito, tendo ganho uma. A direita é que perdeu em toda a linha: perdeu 3 presidências de câmara; perdeu mandatos; perdeu uma capital de distrito e perdeu votos.
Finalmente Jorge Coelho, surpresa das surpresas, afirmou na “Quadratura do Círculo”, na “SIC-Notícias”, que os resultados do PS não tinham sido “catastróficos”. Pelos vistos as expectativas dos dirigentes do PS eram megalómanas. As escolhas de muitos candidatos consideradas de excelência. A política de alianças um primor de visão estratégica. Só essas falsas expectativas, alimentadas pelos dirigentes do PS, podem explicar a sua incapacidade para defender os resultados.
Como os números mostram o PS, objectivamente, obteve um bom resultado. O que acontece é que os dirigentes do PS falharam na gestão das expectativas e transformaram uma vitória ou, no mínimo, um bom resultado, numa derrota. Marques Mendes geriu melhor as expectativas e permitiu-se transformar um resultado medíocre numa vitória.
Os balanços das autárquicas, fundados num exercício extraordinário de omissão dos resultados das mesmas, integram-se, na perfeição, na pré-campanha presidencial de Cavaco. A ideia é simples: criar uma onda de derrotismo na esquerda e, em particular, no PS para abrir o caminho a uma entrada triunfal da candidatura presidencial de Cavaco.
Pode ser que nas eleições presidenciais se invertam as expectativas e, concomitantemente, a lógica de apreciação dos seus resultados finais.
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