Friday, April 01, 2005

A SECA - PEQUENA DISSERTAÇÃO LIVRE

Esperem, tenham calma, a situação é muito complexa. Difícil e exigente. Sempre. É sempre assim. A seca é uma ameaça. Tomam-se medidas contra a seca.

Alerta. Alerta. Está! Quando acabar a água potável, acabou. Mas a água potável não vai acabar. Vai aumentar de preço. É a lei da oferta e da procura. Simples. Mas tirando uns velhos - que não mandam nada - quem se dedica a poupar água? O país vai secando do sul para norte, do interior para o litoral. Não é a seca deste ano. É a seca de sempre. É simplesmente a desertificação do território.

Para estes problemas há uma disciplina nas faculdades a que se tem chamado de “desenvolvimento sustentável”. Nas Faculdades os cursos afins ao tema têm, aliás, pouca procura de estudantes. Trata-se de um tema assaz interessante e, afinal, muito simples de enunciar: o “desenvolvimento sustentável” pretende promover o consumo dos recursos naturais, pelas gerações actuais, de forma a que as gerações futuras ainda possam viver usufruindo deles.

Trata-se, enfim, de não gastar toda a “fortuna natural” que nos foi legada pelos nossos antepassados na roleta de um consumo imediato e irracional. É simples. Mas tal como a bondade, a gestão dos recursos naturais, ou se interioriza, tornando-se uma prática corrente, ou se transforma, no primeiro caso, em caridade e no segundo, em propaganda.

Não basta anunciar planos para combater a seca. É preciso encetar políticas que a previnam. Há muitas medidas da gestão da água na carteira (ou gaveta) dos governos. O actual primeiro ministro é homem preocupado e conhecedor desses dossiers. Mas só há uma medida, de fundo, para combater a seca: mudar os modos de vida e de produção, mexer no paradigma consumista da sociedade em que vivemos. Impossível, não é?

Por isso mesmo o problema, olhado pelo lado de consumo, é pouco estimulante. Mas mesmo por esse lado aconselho a que façam umas contas. Experimentem fazer as contas aos preços da água. Comecem pela água mineral engarrafada. Mais cara que a gasolina. Depois passem para a água canalizada. Nalguns concelhos (como o de Sintra) quase tão cara como a engarrafada. Ainda pelo lado do consumo: as regas inúteis podem ter pouco significado no consumo mas têm muito impacto na desresponsabilização social pela questão do consumo da água.

Olhando o problema por outros ângulos ( a título de exemplo) : campos de golpe no Algarve arvorados em eixo estratégico do desenvolvimento turístico; a Barragem do Alqueva sem ramais de distribuição da água armazenada (projectados!); atraso absoluto na implantação de sistemas de reutilização da água de consumo doméstico; indústrias obsoletas, altamente consumistas de água, nunca são penalizadas; os números acerca das perdas nos circuitos de distribuição da água, em todos os escalões, são aterradores.

É precisa uma estratégia nacional para a água. E, por conseguinte, para a seca. De alto a baixo. De cabo a rabo. Uma tarefa de fundo, a médio/longo prazo, para o governo. Esta é mesmo uma função do governo. Se o governo socialista a concretizar já basta para ficar na história. Eu disse concretizar. É difícil mas possível. E tem apoio popular. Garantido à partida. Mas não façam prédicas anunciatórias para empatar tempo e adormecer o auditório. Acção. Acção.

Leia ainda aqui.

E ainda a crítica dos ambientalistas acerca da "Lei da Água": Ambientalistas criticam falta de discussão sobre lei da água

"A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) criticou ontem a ausência de discussão pública sobre a proposta de lei quadro da água, cujo prazo de consulta terminou a 15 de Março, e apelou a um processo mais participativo.A proposta de lei quadro da água transpõe para o direito interno a Directiva Quadro da Água (DQA) e revoga um conjunto de decretos-lei neste domínio, mas a LPN mostrou "profunda insatisfação" pela forma como o processo foi conduzido." Público

Seca – Actualização

Sócrates assume investimentos para evitar efeitos da seca no Alentejo

"O primeiro-ministro, José Sócrates, assumiu hoje, em Alqueva, a aceleração dos investimentos nas componentes agrícola e de abastecimento de água da Barragem para que o Alentejo, de futuro, “possa estar a coberto dos efeitos da seca”."

Lusa e Público

Actualização (2)

Água: entre 35 e 50 por cento perde-se nos sistemas de abastecimento


“Diário do Governo” - 7

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