Saturday, November 02, 2013

ALBERT CAMUS - PELO CENTENÁRIO


CAMUS E O LIVRO QUE QUEREMOS LEVAR PARA UMA ILHA HABITADA

“Que livro levarias para uma ilha deserta?”

Muitos respondem que a Bíblia, talvez porque é uma biblioteca num só livro. Umberto Eco optava pela lista telefónica, para poder inventar com aquelas personagens um número infinito de histórias. Outros, mais pragmáticos, um manual de Como se faz uma canoa. Todas as respostas nos dizem afinal que o ser humano é gregário: dá-se mal com a solidão e, quando se vê sem companheiros de aventura, gosta de os criar. Como fazia Robinson Crusoé até encontrar Sexta-feira, içando regularmente a bandeira inglesa na ilha fora do mapa.

A resposta pode ser ligeira e em nada nos comprometer. Talvez mais difíceis de escolher (e muito mais comprometedores) sejam os livros que queremos guardar na nossa ilha habitada. Uma ilha sim, aquele círculo de lugares, coisas e pessoas entre os quais moramos todos os dias e a partir do qual avistamos o resto do mundo, se formos ao cais. A sobreposição de factos, de tempos e de espaços que existe na vida real depressa nos leva a esquecer o quão importante é guardar algumas coisas, poucas, algumas pessoas, amigas, alguns livros, escolhidos. Vivemos com o que nos põem à frente, muitas vezes sem nos preocuparmos com o pó que foi naturalmente tapando as rosas que recebemos, os amigos que já não vemos, os livros que já não lemos. Até que um pequeno abalo sísmico na nossa ilha habitada nos abre uma brecha na paisagem. É sempre por causa dos abalos que refletimos no que é importante guardar. Eu sei que levo pelo menos um livro de Albert Camus comigo, apesar de não estar na moda em Portugal. A ilha em que eu habito não lê agora muito os autores franceses e não gosta de ler coisas que ponham (mais) problemas. A ilha anda a ler romance histórico: que é uma forma de enganar a memória atirando os problemas para trás. Fazemos mal, se esquecermos Albert Camus. É um autor francês que deve ser lido em período de abalos. Camus é importante na medida em que nos obriga a questionar os velhos clichés e a identificar as novas falácias. Camus é urgente, na medida em que nos interroga e nos incomoda, levando-nos a ver para além da ilha, círculo vicioso e absurdo em que habitamos.

Vê-se bem a marca do livro de Camus na mala com que ando pela vida. Só não consigo ver bem o título, talvez porque eu vá mudando o livro, mantendo a editora. Tenho quase a certeza de que é A Queda. Acorda-me do sono mortal da indiferença. Levei-o quando estive em Amesterdão. Para que me aparecesse de novo Clamence, juiz-penitente, e ele me fosse acusando das minhas cobardias, confessando as suas. Para que ele me alerte para as formas rituais de dignificação dos vícios: “Até amanhã, pois, meu caro senhor e compatriota. Não, agora facilmente atina com o caminho; deixo-o nesta ponte. Nunca passo, de noite, numa ponte. É a consequência de um voto. Suponha, no fim de contas, que alguém se atira à água. Das duas uma, ou o senhor o segue, para o tirar, ou o abandona à sua sorte e os mergulhos retidos causam por vezes estranhas cãibras”…

Ou talvez seja O Estrangeiro. Releio agora sem professor, admirando cada vez mais a conotação indelével das coisas ditas com simplicidade. Disseram-me seca a frase “Hoje, a mamã morreu”. Mas se assim fosse, porquê a ternura da palavra “mamã”? Tento variantes: “Hoje, a minha mãe morreu”, mais seco. “Hoje, a mãe morreu”: mais seco ainda? O que é hoje evidente em Meursault é o percurso iniciático de um homem que aprende a sair da indiferença que nunca foi absoluta. O Estrangeiro é a história do caminho que vai do “para mim tanto faz” ao “não” final, forma extrema de compromisso solitário. Ensinou-me que Camus não é um filósofo do absurdo, mas um filósofo anti-absurdo, na medida em que constrói os sentidos da vida a partir da consciência indelével do absurdo.

Não, talvez sejam as Núpcias. Ou O Verão. Nestas obras reaprendo a vitalidade da Natureza, vitalidade engenhosa, resistente, teimosa, ardilosa. Somos como as ruínas de Tipasa, o vento de Djémila, a cidade babélica de Argel, o deserto afinal habitado. Somos ainda o tronco daquelas amendoeiras que resistem à neve do Inverno, e ainda a neve que resiste ao vento, e a flor que nasce de um tronco que parece morto, ainda antes da primavera despontar. Camus recorda-nos a democracia da beleza: “Bem pobres são aqueles que precisam de mitos. Descrevo e digo: ‘Isto é vermelho, azul, verde. Isto é o mar, as montanhas, as flores.’ Tenho eu necessidade de falar de Dioniso para dizer que gosto de esmagar bolas de lentiscos debaixo do meu nariz?”

Bem pobres somos nós, que precisamos de mitos. E de livros que nos recordem o essencial. Mais pobres ficaremos se os não buscarmos.

Maria Luísa Malato

Faculdade de Letras da Universidade do Porto
[Textos preparados para publicação no Expresso pelo Centenário de Albert Camus. Este foi publicado na edição de hoje.]
 

Sunday, October 13, 2013

ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (GRANDES TEXTOS)

ALBERT CAMUS - Alguns apontamentos para Nemésis


Por Maria Luísa Malato Borralho - Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Fez no dia 4 de Janeiro cinquenta anos que Albert Camus morreu. Tinha uns dias antes, terminado uns apontamentos sobre a forma de aforismos: um nunca fechado ensaio sobre o que não convém esquecer, sobre o que convém arrastar ao longo do tempo. Chamara-lhe “Para Nemésis” (Nemésis, a deusa filha da Noite e do Oceano), e dedicara-o a Cerésol, um amigo de longa data. Evocar Camus poderia ser mais um ritual literário. Não é ele que nos move. Mas o pretexto para não o deixar morrer. Porque um escritor morre quando não é lido. E a avaliar pelas leituras das novas gerações que chegam aos cursos universitários de Literatura, a crer nos inquéritos que preenchem, e nos modelos de literatura que incorporam, Albert Camus caiu num indiferente silêncio. 

Quem é Albert Camus? Um escritor que não queria esquecer em si a amálgama de raças de que todos somos feitos. Amarguravam-no os rótulos, sacudia-os muitas vezes debalde, sobretudo depois de ter recebido o Prémio Nobel. Sempre demasiado filósofo para entrar na cúria dos escritores, demasiado escritor para entrar na quinta dos filósofos, demasiado instintivo para o coro dos existencialistas, demasiado existencialista para o hino dos neo-realistas, demasiado materialista para ser religioso, demasiado religioso para ser materialista. Andamos a perdê-lo entre estes e outros lugares-comuns. 

Albert Camus é um escritor para o nosso tempo, para em cada tempo questionarmos o que somos. Fala-nos por isso de coisas incómodas e não rotuláveis. Numa folha dos seus cadernos foi anotando as dez palavras que preferia. “Resposta à questão sobre as minhas dez palavras preferidas: Mundo, Dor, Terra, Mãe, Homens, Deserto, Miséria, Verão, Mar”. Antes o lêssemos com palavras-chave ou com aforismos. E dele fizéssemos apontamentos para Nemésis, formas de Memória, nascidas do escuro da Noite e da mobilidade do Oceano. As palavras-chave abrem livros e mundos. E os aforismos são uma sabedoria erudita, como provérbios de um povo de leitores.

Mundo: “O meu papel não é o de transformar o mundo. […] Ou transformar os homens. […] Mas talvez seja o de, na minha circunstância, somente servir aqueles valores sem os quais o mundo, mesmo transformado, não merece ser vivido”. Ler O Homem Revoltado. O absurdo do mundo não é uma conclusão. Mas pode ser um ponto de partida.

Dor: “Devemos servir ao mesmo tempo a Dor e a Beleza. A demorada paciência, a força, a secreta vitória que isso exigirá de nós tornar-se-ão as virtudes sobre as quais fundaremos o renascimento de que sentimos necessidade”. Ler O Avesso e o Direito. Nunca se deve escolher entre O Avesso e o Direito do mundo. Não se pode escolher.

Terra: “Bem pobres são aqueles que têm necessidade de mitos. Aqui os deuses transformam-se em leitos e miradouros ao longo dos caminhos. Descrevo e digo: ’Aqui está o vermelho, o azul, o verde. Isto é o mar, a montanha, flores’. Que necessidade tenho de falar de Dionísio para falar do gosto que tenho em esmagar as sementes de lentisco perto do nariz?” Ler O Estrangeiro. Há uma aprendizagem a fazer do que temos. E do que perdemos quando o esquecemos.

Mãe: “[…] o sentimento bizarro que um filho dedica a sua mãe constitui toda a sua sensibilidade. As manifestações dessa sensibilidade nos mais diferentes domínios explicam-se suficientemente por essa memória latente, o material da sua infância (cola que adere à alma) ”. Ler O Primeiro Homem. Crescer a tentar perceber os silêncios, as lacunas, os gestos, os actos. Mais importantes do que as palavras que foram faltando.

Homens: “Todos nós sabemos bem, sem qualquer sombra de dúvida, que a tão procurada nova ordem mundial, não pode ser a imposição de uma perspectiva nacional, nem mesmo continental, e muito menos ocidental ou oriental. Ela só pode ser universal”. Ler Os Justos. Ajuda a reflectir sobre o terrorismo e os seus limites. Entender a ordem é compreender a diversidade. Entender o Mal é desde logo exigir em nós a acção responsável do Bem.

Deserto: “O deserto tem algo de implacável. O céu mineral de Orão, as suas ruas, as suas árvores revestidas pela poeira, tudo contribui para criar esse universo espesso e impassível, onde o coração e o espírito nunca andam distraídos, nele encontrando sempre razões para crescer, para se afirmar”. Ler Calígula ou A Queda. O deserto nas cidades também. O das palavras indiferentes e o dos gestos brutais. E a teimosa lição de toda a vida que existe no deserto.

Miséria: Respondendo a um crítico que lhe observava que não podia ter aprendido o valor da liberdade em Marx: “- É verdade, aprendi-o na miséria”. Ler A Peste. A miséria que pode amesquinhar. A miséria que pode tolher. A miséria que pode desculpar o uso do sabre. Mas também a possibilidade de tudo perder. E da vitória possível do espírito sobre o sabre.

Verão: “Nunca falhamos na vida quando a colocamos na luz. Ao longo das situações, descontentamentos, desilusões, o meu zelo era o de voltar a encontrar os contactos do mundo. E mesmo mergulhado na minha tristeza, que desejo de amar, que inebriamento, à simples visão de uma colina ao cair da tarde”. Ler O Verão. Devia ser traduzido. Existe todavia na internet uma versão brasileira, disponível.

Mar: “Preciso de me despir e depois mergulhar no mar, o corpo perfumado ainda com as essências da terra, e nele as lavar, sentindo sobre a minha pele o beijo por que suspiravam há tanto tempo a terra e o mar”. Ler Núpcias. A voluptuosidade do volúvel. O prazer do que é indefinido e muda de forma. Como do que é palpável e rigoroso.

O sentimento do absurdo é fácil. Difícil é pegar no absurdo e teimar em derrotá-lo. Com “aquela vontade admirável de nada separar ou excluir que sempre reconciliou e reconciliará ainda o coração dorido dos homens e a primavera do mundo”.

[Publicado, no dia 15 de Janeiro de 2010, em As Artes Entre as Letras.]

Friday, October 11, 2013

ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (GRANDES TEXTOS)

No dia 18 de março de 2012, o jornal Le Monde publicou um manifesto inédito de Albert Camus. O texto ia ser publicado no Le Soir Républicain, um jornal argelino, mas foi censurado. Na época, estava começando a Segunda Guerra Mundial.

Você confere o texto original abaixo e uma tradução.

Original

L'article que nous publions devait paraître le 25 novembre 1939 dans "Le Soir républicain", un quotidien limité à une feuille recto verso que Camus codirige à Alger. L'écrivain y définit "les quatre commandements du journaliste libre" : lucidité, refus, ironie et obstination. Notre collaboratrice Macha Séry a retrouvé ce texte aux Archives nationales d'outre-mer, à Aix-en-Provence. Camus dénonce ici la désinformation qui gangrène déjà la France en 1939. Son manifeste va plus loin. Il est une réflexion sur le journalisme en temps de guerre. Et, plus largement, sur le choix de chacun, plus que celui de la collectivité, de se construire en homme libre.

Il est difficile aujourd'hui d'évoquer la liberté de la presse sans être taxé d'extravagance, accusé d'être Mata-Hari, de se voir convaincre d'être le neveu de Staline.

Pourtant cette liberté parmi d'autres n'est qu'un des visages de la liberté tout court et l'on comprendra notre obstination à la défendre si l'on veut bien admettre qu'il n'y a point d'autre façon de gagner réellement la guerre.

Certes, toute liberté a ses limites. Encore faut-il qu'elles soient librement reconnues. Sur les obstacles qui sont apportés aujourd'hui à la liberté de pensée, nous avons d'ailleurs dit tout ce que nous avons pu dire et nous dirons encore, et à satiété, tout ce qu'il nous sera possible de dire. En particulier, nous ne nous étonnerons jamais assez, le principe de la censure une fois imposé, que la reproduction des textes publiés en France et visés par les censeurs métropolitains soit interdite au Soir républicain (le journal, publié à Alger, dont Albert Camus était rédacteur en chef à l'époque), par exemple. Le fait qu'à cet égard un journal dépend de l'humeur ou de la compétence d'un homme démontre mieux qu'autre chose le degré d'inconscience où nous sommes parvenus.

Un des bons préceptes d'une philosophie digne de ce nom est de ne jamais se répandre en lamentations inutiles en face d'un état de fait qui ne peut plus être évité. La question en France n'est plus aujourd'hui de savoir comment préserver les libertés de la presse. Elle est de chercher comment, en face de la suppression de ces libertés, un journaliste peut rester libre. Le problème n'intéresse plus la collectivité. Il concerne l'individu.

Et justement ce qu'il nous plairait de définir ici, ce sont les conditions et les moyens par lesquels, au sein même de la guerre et de ses servitudes, la liberté peut être, non seulement préservée, mais encore manifestée. Ces moyens sont au nombre de quatre : la lucidité, le refus, l'ironie et l'obstination. La lucidité suppose la résistance aux entraînements de la haine et au culte de la fatalité. Dans le monde de notre expérience, il est certain que tout peut être évité. La guerre elle-même, qui est un phénomène humain, peut être à tous les moments évitée ou arrêtée par des moyens humains. Il suffit de connaître l'histoire des dernières années de la politique européenne pour être certains que la guerre, quelle qu'elle soit, a des causes évidentes. Cette vue claire des choses exclut la haine aveugle et le désespoir qui laisse faire. Un journaliste libre, en 1939, ne désespère pas et lutte pour ce qu'il croit vrai comme si son action pouvait influer sur le cours des événements. Il ne publie rien qui puisse exciter à la haine ou provoquer le désespoir. Tout cela est en son pouvoir.

En face de la marée montante de la bêtise, il est nécessaire également d'opposer quelques refus. Toutes les contraintes du monde ne feront pas qu'un esprit un peu propre accepte d'être malhonnête. Or, et pour peu qu'on connaisse le mécanisme des informations, il est facile de s'assurer de l'authenticité d'une nouvelle. C'est à cela qu'un journaliste libre doit donner toute son attention. Car, s'il ne peut dire tout ce qu'il pense, il lui est possible de ne pas dire ce qu'il ne pense pas ou qu'il croit faux. Et c'est ainsi qu'un journal libre se mesure autant à ce qu'il dit qu'à ce qu'il ne dit pas. Cette liberté toute négative est, de loin, la plus importante de toutes, si l'on sait la maintenir. Car elle prépare l'avènement de la vraie liberté. En conséquence, un journal indépendant donne l'origine de ses informations, aide le public à les évaluer, répudie le bourrage de crâne, supprime les invectives, pallie par des commentaires l'uniformisation des informationset, en bref, sert la vérité dans la mesure humaine de ses forces. Cette mesure, si relative qu'elle soit, lui permet du moins de refuser ce qu'aucune force au monde ne pourrait lui faire accepter : servir le mensonge.

Nous en venons ainsi à l'ironie. On peut poser en principe qu'un esprit qui a le goût et les moyens d'imposer la contrainte est imperméable à l'ironie. On ne voit pas Hitler, pour ne prendre qu'un exemple parmi d'autres, utiliser l'ironie socratique. Il reste donc que l'ironie demeure une arme sans précédent contre les trop puissants. Elle complète le refus en ce sens qu'elle permet, non plus de rejeter ce qui est faux, mais de dire souvent ce qui est vrai. Un journaliste libre, en 1939, ne se fait pas trop d'illusions sur l'intelligence de ceux qui l'oppriment. Il est pessimiste en ce qui regarde l'homme. Une vérité énoncée sur un ton dogmatique est censurée neuf fois sur dix. La même vérité dite plaisamment ne l'est que cinq fois sur dix. Cette disposition figure assez exactement les possibilités de l'intelligence humaine. Elle explique également que des journaux français comme Le Merle ou Le Canard enchaîné puissent publier régulièrement les courageux articles que l'on sait. Un journaliste libre, en 1939, est donc nécessairement ironique, encore que ce soit souvent à son corps défendant. Mais la vérité et la liberté sont des maîtresses exigeantes puisqu'elles ont peu d'amants.

Cette attitude d'esprit brièvement définie, il est évident qu'elle ne saurait se soutenir efficacement sans un minimum d'obstination. Bien des obstacles sont mis à la liberté d'expression. Ce ne sont pas les plus sévères qui peuvent décourager un esprit. Car les menaces, les suspensions, les poursuites obtiennent généralement en France l'effet contraire à celui qu'on se propose. Mais il faut convenir qu'il est des obstacles décourageants : la constance dans la sottise, la veulerie organisée, l'inintelligence agressive, et nous en passons. Là est le grand obstacle dont il faut triompher. L'obstination est ici vertu cardinale. Par un paradoxe curieux mais évident, elle se met alors au service de l'objectivité et de la tolérance.

Voici donc un ensemble de règles pour préserver la liberté jusqu'au sein de la servitude. Et après ?, dira-t-on. Après ? Ne soyons pas trop pressés. Si seulement chaque Français voulait bien maintenir dans sa sphère tout ce qu'il croit vrai et juste, s'il voulait aider pour sa faible part au maintien de la liberté, résister à l'abandon et faire connaître sa volonté, alors et alors seulement cette guerre serait gagnée, au sens profond du mot.

Oui, c'est souvent à son corps défendant qu'un esprit libre de ce siècle fait sentir son ironie. Que trouver de plaisant dans ce monde enflammé ? Mais la vertu de l'homme est de se maintenir en face de tout ce qui le nie. Personne ne veut recommencer dans vingt-cinq ans la double expérience de 1914 et de 1939. Il faut donc essayer une méthode encore toute nouvelle qui serait la justice et la générosité. Mais celles-ci ne s'expriment que dans des coeurs déjà libres et dans les esprits encore clairvoyants. Former ces coeurs et ces esprits, les réveiller plutôt, c'est la tâche à la fois modeste et ambitieuse qui revient à l'homme indépendant. Il faut s'y tenir sans voir plus avant. L'histoire tiendra ou ne tiendra pas compte de ces efforts. Mais ils auront été faits.

Tradução

O artigo que publicamos é de 25 de novembro de 1939, do Le Soir républicain, um jornal de folha única co-dirigido por Camus em Argel. O escritor define, no texto, os "quatro mandamentos do jornalista livre": a lucidez, a recusa, a ironia e a obstinação. Nosso colaborador Macha Sery descobriu o texto no Arquivo Nacional do exterior, em Aix-en-Provence. Camus denuncia a desinformação que assola a França em 1939. Seu manifesto vai mais longe. É uma reflexão sobre o jornalismo em tempo de guerra. E, mais amplamente, é a escolha de cada indivíduo, mais do que em comunidade, para construir um homem livre.

É difícil hoje para discutir a liberdade de imprensa sem ser taxado extravagante, acusado de ser uma Mata-Hari (famosa assassina e espiã holandesa), ou convencido de que se é sobrinho de Stálin.

No entanto, essa liberdade dos outros não é a face da própria liberdade e vamos incluir a nossa determinação em defendê-la se aceitamos que não há outra maneira de realmente ganhar a guerra.

Certamente, a liberdade tem seus limites. É também necessário que isso seja livremente aceito. Sobre os obstáculos presentes hoje à liberdade de pensamento, temos dito tudo o que se podia dizer e diremos de novo e de novo tudo o que se é possível dizer sobre. Em particular, nos surpreende bastante, o começo da censura imposta uma vez na reprodução de textos publicados na França e feita pelos censores metropolitanos de maneira ilegal no  Soir Républicain (um jornal, publicado em Argel, onde Albert Camus foi editor na época), por exemplo. O fato de que, sobre esse assunto, um jornal dependa do humor ou da competência de um homem acaba demonstrando melhor o grau de consciência que temos conseguido.

Um dos bons preceitos de uma filosofia digna desse nome nunca é espalhada em lamentações inúteis diante de uma situação que não pode mais ser evitada. A questão na França hoje não é mais falar de como preservar a liberdade de imprensa. É para saber como, diante da supressão dessas liberdades, um jornalista pode permanecer livre. O problema não interessa mais ao coletivo. Ela diz respeito ao indivíduo.

E justamente o que nós escolhemos para definir aqui as condições e os meios pelos quais, dentro da guerra e em suas servidões, a liberdade pode não apenas ser preservada, mas também manifestada mais uma vez. Estes meios são quatro: a lucidez, a recusa, a ironia e a obstinação. A lucidez requer treinamento de resistência aos aspectos do ódio e ao culto da desgraça. No mundo de nossa experiência, é certo que tudo pode ser evitado. A própria guerra, que é um fenômeno humano, pode ser evitada ou parada a todo o momento por meios humanos. Basta conhecer a história dos últimos anos da política europeia para ter certeza de que a guerra, seja qual for, tem causas óbvias. Essa visão clara das coisas exclui o ódio cego e o desespero que se formam. Um jornalista livre, em 1939, não se desespera e luta por aquilo que ele acredita ser verdade se a sua ação puder afetar o curso dos acontecimentos. Ele não publica nada que possa despertar o ódio ou que provoque desespero. Tudo isso está em seu poder.

Diante da crescente onda de loucura, também é necessário se opor a certas recusas. Todas as restrições do mundo não criarão um espírito que concorda um pouco em ser desonesto. O ouro, e pouco sabemos sobre os meios de informação, é fácil ser verificado em sua autenticidade. Um jornalista livre deve oferecer toda a sua atenção. Pois, se ele pode dizer o que ele pensa, ele não pode dizer o que ele não pensa ou o que ele acredita ser falso. E isso em um jornal livre é medido tanto pelo que ele diz quanto pelo que ele não diz. Essa liberdade negativa é, de longe, a mais importante de todas, se ela se mantiver. Porque ela prepara o caminho para a verdadeira liberdade. Consequentemente, um jornal independente gera suas informações, ajuda o público a avaliá-las, repudia o sensacionalismo, remove invenções, organiza os comentários padronizando a informação, em resumo, ele é a verdade, na concentração das forças humanas. Essa recusa, se ela está é assim, pelo menos, permite que se negue o que nenhuma força na terra pode fazer o jornal aceitar: submeter-se às mentiras.

Isso nos leva para a ironia. Podemos imaginar que uma mente que tem gosto e meios para impor restrições é impermeável à ironia. Nós não vemos Hitler, para dar apenas um exemplo entre outros, usar a ironia socrática. Isso mostra que a ironia continua a ser uma arma sem precedentes contra os poderosos totalitários. Ela complementa a recusa na medida em que permite, ao invés de rejeitar o que é falso, dizer o que é a verdade, muitas vezes. Um jornalista livre, em 1939, não se rende a muitas ilusões sobre a inteligência daqueles que oprimem. Ele é pessimista no que se refere ao homem. A verdade expressa em tom dogmático é recusada por ele nove em cada dez vezes. A mesma verdade de forma jocosa é aceita  em cinco de cada dez vezes. Esta disposição é quase igual às possibilidades da inteligência humana. A ironia também explica que jornais franceses como Le Canard e Le Merle se comprometem e podem publicar artigos corajosos conhecidos. Um jornalista livre, em 1939, é necessariamente irônico, mas ele é, muitas vezes, a contragosto. Mas a verdade e a liberdade são exigentes, uma vez que eles tem poucos amantes.

Tal atitude de espírito brevemente definida, obviamente não pode ser sustentada de forma eficaz sem um mínimo de obstinação. Muitos obstáculos são colocados contra a liberdade de expressão. Eles não são mais graves do que desencorajar um espírito. Porque as ameaças, as suspensões e a repressão na França geralmente conseguem o efeito oposto ao que é proposto. Mas devemos admitir que são obstáculos desencorajadores: a constância da estupidez, as organizações covardes, a desinteligência agressiva e, por isso, nós nos desgastamos. Aqui está o grande obstáculo que devemos superar. Obstinação é uma virtude cardeal. Por um curioso paradoxo é evidente que, em seguida, começa nela a objetividade e a tolerância.

Aqui está um conjunto de regras para preservar a liberdade até dentro da servidão, da repressão. E depois? Vai dizer, depois? Não vamos ter pressa. Se apenas a cada francês quiser se manter bem dentro da esfera do que ele acredita que é verdadeiro e correto, se ele quisesse ajudar com sua pequena parte na manutenção da liberdade, resistir ao abandono e descobrir a seu desejo, então, e só então, esta guerra seria vencida, no sentido mais profundo da palavra.

Sim, é muitas vezes a contragosto que um espírito livre do século percebeu sua ironia. O que é engraçado de se ver neste mundo em chamas? No entanto, a virtude do homem é se manter firme diante de tudo o que nega. Ninguém quer reviver esses vinte e cinco anos de experiência, tanto em 1914 quanto em 1939. Devemos, portanto, experimentar um método ainda muito novo de justiça e generosidade. Mas elas são expressas apenas em corações livres e em mentes ainda exigentes. Formar esses corações e mentes, que acordem de vez, é a tarefa tanto do homem modesto quanto do ambicioso que se torna independente. Devemos chegar nisso sem adiar mais. A história será contada ou não através desses esforços. E tudo depende se eles forem feitos.
 
(Daqui)

Thursday, September 26, 2013

ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (GRANDES TEXTOS)

ALBERT CAMUS, DISCOURS DE SUÈDE

E
n recevant la distinction dont votre libre Académie a bien voulu m’honorer, ma gratitude était d’autant plus profonde que je mesurais à quel point cette récompense dépassait mes mérites personnels. Tout homme et, à plus forte raison, tout artiste, désire être reconnu. Je le désire aussi. Mais il ne m’a pas été possible d’apprendre votre décision sans comparer son retentissement à ce que je suis réellement. Comment un homme presque jeune, riche de ses seuls doutes et d’une œuvre encore en chantier, habitué à vivre dans la solitude du travail ou dans les retraites de l’amitié, n’aurait-il pas appris avec une sorte de panique un arrêt qui le portait d’un coup, seul et réduit à lui-même, au centre d’une lumière crue ? De quel cœur aussi pouvait-il recevoir cet honneur à l’heure où, en Europe, d’autres écrivains, parmi les plus grands, sont réduits au silence, et dans le temps même où sa terre natale connaît un malheur incessant ?

J’ai connu ce désarroi et ce trouble intérieur. Pour retrouver la paix, il m’a fallu, en somme, me mettre en règle avec un sort trop généreux. Et, puisque je ne pouvais m’égaler à lui en m’appuyant sur mes seuls mérites, je n’ai rien trouvé d’autre pour m’aider que ce qui m’a soutenu, dans les circonstances les plus contraires, tout au long de ma vie : l’idée que je me fais de mon art et du rôle de l’écrivain. Permettez seulement que, dans un sentiment de reconnaissance et d’amitié, je vous dise, aussi simplement que je le pourrai, quelle est cette idée.

Je ne puis vivre personnellement sans mon art. Mais je n’ai jamais placé cet art au-dessus de tout. S’il m’est nécessaire au contraire, c’est qu’il ne se sépare de personne et me permet de vivre, tel que je suis, au niveau de tous. L’art n’est pas à mes yeux une réjouissance solitaire. Il est un moyen d’émouvoir le plus grand nombre d’hommes en leur offrant une image privilégiée des souffrances et des joies communes. Il oblige donc l’artiste à ne pas s’isoler ; il le soumet à la vérité la plus humble et la plus universelle. Et celui qui, souvent, a choisi son destin d’artiste parce qu’il se sentait différent, apprend bien vite qu’il ne nourrira son art, et sa différence, qu’en avouant sa ressemblance avec tous. L’artiste se forge dans cet aller-retour perpétuel de lui aux autres, à mi-chemin de la beauté dont il ne peut se passer et de la communauté à laquelle il ne peut s’arracher. C’est pourquoi les vrais artistes ne méprisent rien ; ils s’obligent à comprendre au lieu de juger. Et, s’ils ont un parti à prendre en ce monde, ce ne peut être que celui d’une société où, selon le grand mot de Nietzsche, ne régnera plus le juge, mais le créateur, qu’il soit travailleur ou intellectuel.

Le rôle de l’écrivain, du même coup, ne se sépare pas de devoirs difficiles. Par définition, il ne peut se mettre aujourd’hui au service de ceux qui font l’histoire : il est au service de ceux qui la subissent. Ou, sinon, le voici seul et privé de son art. Toutes les armées de la tyrannie avec leurs millions d’hommes ne l’enlèveront pas à la solitude, même et surtout s’il consent à prendre leur pas. Mais le silence d’un prisonnier inconnu, abandonné aux humiliations à l’autre bout du monde, suffit à retirer l’écrivain de l’exil, chaque fois, du moins, qu’il parvient, au milieu des privilèges de la liberté, à ne pas oublier ce silence et à le faire retentir par les moyens de l’art.

Aucun de nous n’est assez grand pour une pareille vocation. Mais, dans toutes les circonstances de sa vie, obscur ou provisoirement célèbre, jeté dans les fers de la tyrannie ou libre pour un temps de s’exprimer, l’écrivain peut retrouver le sentiment d’une communauté vivante qui le justifiera, à la seule condition qu’il accepte, autant qu’il peut, les deux charges qui font la grandeur de son métier : le service de la vérité et celui de la liberté. Puisque sa vocation est de réunir le plus grand nombre d’hommes possible, elle ne peut s’accommoder du mensonge et de la servitude qui, là où ils règnent, font proliférer les solitudes. Quelles que soient nos infirmités personnelles, la noblesse de notre métier s’enracinera toujours dans deux engagements difficiles à maintenir — le refus de mentir sur ce que l’on sait et la résistance à l’oppression.

Pendant plus de vingt ans d’une histoire démentielle, perdu sans secours, comme tous les hommes de mon âge, dans les convulsions du temps, j’ai été soutenu ainsi par le sentiment obscur qu’écrire était aujourd’hui un honneur, parce que cet acte obligeait, et obligeait à ne pas écrire seulement. Il m’obligeait particulièrement à porter, tel que j’étais et selon mes forces, avec tous ceux qui vivaient la même histoire, le malheur et l’espérance que nous partagions. Ces hommes, nés au début de la première guerre rnondiale, qui ont eu vingt ans au moment où s’installaient à la fois le pouvoir hitlérien et les premiers procès révolutionnaires ont été confrontés ensuite, pour parfaire leur éducation, à la guerre d’Espagne, à la deuxième guerre mondiale, à l’univers concentrationnaire, à l’Europe de la torture et des prisons, doivent aujourd’hui élever leurs fils et leurs œuvres dans un monde menacé de destruction nucléaire. Personne, je suppose, ne peut leur demander d’être optimistes. Et je suis même d’avis que nous devons comprendre, sans cesser de lutter contre eux, l’erreur de ceux qui, par une surenchère de désespoir, ont revendiqué le droit au déshonneur, et se sont rués dans les nihilismes de l’époque. Mais il reste que la plupart d’entre nous, dans mon pays et en Europe, ont refusé ce nihilisme et se sont mis à la recherche d’une légitimité. Il leur a fallu se forger un art de vivre par temps de catastrophe, pour naître une seconde fois, et lutter ensuite, à visage découvert, contre l’instinct de mort à l’œuvre dans notre histoire.

Chaque génération, sans doute, se croit vouée à refaire le monde. La mienne sait pourtant qu’elle ne le refera pas. Mais sa tâche est peut-être plus grande. Elle consiste à empêcher que le monde ne se défasse. Héritière d’une histoire corrompue où se mêlent les révolutions déchues, les techniques devenues folles, les dieux morts et les idéologies exténuées, où de médiocres pouvoirs peuvent aujourd’hui tout détruire mais ne savent plus convaincre, où l’intelligence s’est abaissée jusqu’à se faire la servante de la haine et de l’oppression, cette génération a dû, en elle-même et autour d’elle, restaurer à partir de ses seules négations un peu de ce qui fait la dignité de vivre et de mourir. Devant un monde menacé de désintégration, où nos grands inquisiteurs risquent d’établir pour toujours les royaumes de la mort, elle sait qu’elle devrait, dans une sorte de course folle contre la montre, restaurer entre les nations une paix qui ne soit pas celle de la servitude, réconcilier à nouveau travail et culture, et refaire avec tous les hommes une arche d’alliance. Il n’est pas sûr qu’elle puisse jamais accomplir cette tâche immense, mais il est sûr que, partout dans le monde, elle tient déjà son double pari de vérité et de liberté, et, à l’occasion, sait mourir sans haine pour lui. C’est elle qui mérite d’être saluée et encouragée partout où elle se trouve, et surtout là où elle se sacrifie. C’est sur elle, en tout cas, que, certain de votre accord profond, je voudrais reporter l’honneur que vous venez de me faire.

Du même coup, après avoir dit la noblesse du métier d’écrire, j’aurais remis l’écrivain à sa vraie place, n’ayant d’autres titres que ceux qu’il partage avec ses compagnons de lutte, vulnérable mais entêté, injuste et passionné de justice, construisant son œuvre sans honte ni orgueil à la vue de tous, toujours partagé entre la douleur et la beauté, et voué enfin à tirer de son être double les créations qu’il essaie obstinément d’édifier dans le mouvement destructeur de l’histoire. Qui, après cela, pourrait attendre de lui des solutions toutes faites et de belles morales ? La vérité est mystérieuse, fuyante, toujours à conquérir. La liberté est dangereuse, dure à vivre autant qu’exaltante. Nous devons marcher vers ces deux buts, péniblement, mais résolument, certains d’avance de nos défaillances sur un si long chemin. Quel écrivain dès lors oserait, dans la bonne conscience, se faire prêcheur de vertu ? Quant à moi, il me faut dire une fois de plus que je ne suis rien de tout cela. Je n’ai jamais pu renoncer à la lumière, au bonheur d’être, à la vie libre où j’ai grandi. Mais bien que cette nostalgie explique beaucoup de mes erreurs et de mes fautes, elle m’a aidé sans doute à mieux comprendre mon métier, elle m’aide encore à me tenir, aveuglément, auprès de tous ces hommes silencieux qui ne supportent dans le monde la vie qui leur est faite que par le souvenir ou le retour de brefs et libres bonheurs.

Ramené ainsi a ce que je suis réellement, à mes limites, à mes dettes, comme à ma foi difficile, je me sens plus libre de vous montrer, pour finir, l’étendue et la générosité de la distinction que vous venez de m’accorder, plus libre de vous dire aussi que je voudrais la recevoir comme un hommage rendu à tous ceux qui, partageant le même combat, n’en ont reçu aucun privilège, mais ont connu au contraire malheur et persécution. Il me restera alors à vous en remercier, du fond du cœur, et à vous faire publiquement, en témoignage personnel de gratitude, la même et ancienne promesse de fidélité que chaque artiste vrai, chaque jour, se fait à lui-même, dans le silence.
[10 DÉCEMBRE 1957]
 

Sunday, June 02, 2013

Chairman Ben S. Bernanke - At the Baccalaureate Ceremony at Princeton University, Princeton, New Jersey

The Ten Suggestions
It's nice to be back at Princeton. I find it difficult to believe that it's been almost 11 years since I departed these halls for Washington. I wrote recently to inquire about the status of my leave from the university, and the letter I got back began, "Regrettably, Princeton receives many more qualified applicants for faculty positions than we can accommodate."1          I'll extend my best wishes to the seniors later, but first I want to congratulate the parents and families here. As a parent myself, I know that putting your kid through college these days is no walk in the park. Some years ago I had a colleague who sent three kids through Princeton even though neither he nor his wife attended this university. He and his spouse were very proud of that accomplishment, as they should have been. But my colleague also used to say that, from a financial perspective, the experience was like buying a new Cadillac every year and then driving it off a cliff. I should say that he always added that he would do it all over again in a minute. So, well done, moms, dads, and families.
   
This is indeed an impressive and appropriate setting for a commencement. I am sure that, from this lectern, any number of distinguished spiritual leaders have ruminated on the lessons of the Ten Commandments. I don't have that kind of confidence, and, anyway, coveting your neighbor's ox or donkey is not the problem it used to be, so I thought I would use my few minutes today to make Ten Suggestions, or maybe just Ten Observations, about the world and your lives after Princeton. Please note, these points have nothing whatsoever to do with interest rates. My qualification for making such suggestions, or observations, besides having kindly been invited to speak today by President Tilghman, is the same as the reason that your obnoxious brother or sister got to go to bed later--I am older than you. All of what follows has been road-tested in real-life situations, but past performance is no guarantee of future results.
   
1. The poet Robert Burns once said something about the best-laid plans of mice and men ganging aft agley, whatever "agley" means. A more contemporary philosopher, Forrest Gump, said something similar about life and boxes of chocolates and not knowing what you are going to get. They were both right. Life is amazingly unpredictable; any 22-year-old who thinks he or she knows where they will be in 10 years, much less in 30, is simply lacking imagination. Look what happened to me: A dozen years ago I was minding my own business teaching Economics 101 in Alexander Hall and trying to think of good excuses for avoiding faculty meetings. Then I got a phone call . . . In case you are skeptical of Forrest Gump's insight, here's a concrete suggestion for each of the graduating seniors. Take a few minutes the first chance you get and talk to an alum participating in his or her 25th, or 30th, or 40th reunion--you know, somebody who was near the front of the P-rade. Ask them, back when they were graduating 25, 30, or 40 years ago, where they expected to be today. If you can get them to open up, they will tell you that today they are happy and satisfied in various measures, or not, and their personal stories will be filled with highs and lows and in-betweens. But, I am willing to bet, those life stories will in almost all cases be quite different, in large and small ways, from what they expected when they started out. This is a good thing, not a bad thing; who wants to know the end of a story that's only in its early chapters? Don't be afraid to let the drama play out.
   
2. Does the fact that our lives are so influenced by chance and seemingly small decisions and actions mean that there is no point to planning, to striving? Not at all. Whatever life may have in store for you, each of you has a grand, lifelong project, and that is the development of yourself as a human being. Your family and friends and your time at Princeton have given you a good start. What will you do with it? Will you keep learning and thinking hard and critically about the most important questions? Will you become an emotionally stronger person, more generous, more loving, more ethical? Will you involve yourself actively and constructively in the world? Many things will happen in your lives, pleasant and not so pleasant, but, paraphrasing a Woodrow Wilson School adage from the time I was here, "Wherever you go, there you are." If you are not happy with yourself, even the loftiest achievements won't bring you much satisfaction.
   
3. The concept of success leads me to consider so-called meritocracies and their implications. We have been taught that meritocratic institutions and societies are fair. Putting aside the reality that no system, including our own, is really entirely meritocratic, meritocracies may be fairer and more efficient than some alternatives. But fair in an absolute sense? Think about it. A meritocracy is a system in which the people who are the luckiest in their health and genetic endowment; luckiest in terms of family support, encouragement, and, probably, income; luckiest in their educational and career opportunities; and luckiest in so many other ways difficult to enumerate--these are the folks who reap the largest rewards. The only way for even a putative meritocracy to hope to pass ethical muster, to be considered fair, is if those who are the luckiest in all of those respects also have the greatest responsibility to work hard, to contribute to the betterment of the world, and to share their luck with others. As the Gospel of Luke says (and I am sure my rabbi will forgive me for quoting the New Testament in a good cause): "From everyone to whom much has been given, much will be required; and from the one to whom much has been entrusted, even more will be demanded" (Luke 12:48, New Revised Standard Version Bible). Kind of grading on the curve, you might say.
    
4. Who is worthy of admiration? The admonition from Luke--which is shared by most ethical and philosophical traditions, by the way--helps with this question as well. Those most worthy of admiration are those who have made the best use of their advantages or, alternatively, coped most courageously with their adversities. I think most of us would agree that people who have, say, little formal schooling but labor honestly and diligently to help feed, clothe, and educate their families are deserving of greater respect--and help, if necessary--than many people who are superficially more successful. They're more fun to have a beer with, too. That's all that I know about sociology.
    
5. Since I have covered what I know about sociology, I might as well say something about political science as well. In regard to politics, I have always liked Lily Tomlin's line, in paraphrase: "I try to be cynical, but I just can't keep up." We all feel that way sometime. Actually, having been in Washington now for almost 11 years, as I mentioned, I feel that way quite a bit. Ultimately, though, cynicism is a poor substitute for critical thought and constructive action. Sure, interests and money and ideology all matter, as you learned in political science. But my experience is that most of our politicians and policymakers are trying to do the right thing, according to their own views and consciences, most of the time. If you think that the bad or indifferent results that too often come out of Washington are due to base motives and bad intentions, you are giving politicians and policymakers way too much credit for being effective. Honest error in the face of complex and possibly intractable problems is a far more important source of bad results than are bad motives. For these reasons, the greatest forces in Washington are ideas, and people prepared to act on those ideas. Public service isn't easy. But, in the end, if you are inclined in that direction, it is a worthy and challenging pursuit.
   
6. Having taken a stab at sociology and political science, let me wrap up economics while I'm at it. Economics is a highly sophisticated field of thought that is superb at explaining to policymakers precisely why the choices they made in the past were wrong. About the future, not so much. However, careful economic analysis does have one important benefit, which is that it can help kill ideas that are completely logically inconsistent or wildly at variance with the data. This insight covers at least 90 percent of proposed economic policies.
   
7. I'm not going to tell you that money doesn't matter, because you wouldn't believe me anyway. In fact, for too many people around the world, money is literally a life-or-death proposition. But if you are part of the lucky minority with the ability to choose, remember that money is a means, not an end. A career decision based only on money and not on love of the work or a desire to make a difference is a recipe for unhappiness.
   
8. Nobody likes to fail but failure is an essential part of life and of learning. If your uniform isn't dirty, you haven't been in the game.
   
9. I spoke earlier about definitions of personal success in an unpredictable world. I hope that as you develop your own definition of success, you will be able to do so, if you wish, with a close companion on your journey. In making that choice, remember that physical beauty is evolution's way of assuring us that the other person doesn't have too many intestinal parasites. Don't get me wrong, I am all for beauty, romance, and sexual attraction--where would Hollywood and Madison Avenue be without them? But while important, those are not the only things to look for in a partner. The two of you will have a long trip together, I hope, and you will need each other's support and sympathy more times than you can count. Speaking as somebody who has been happily married for 35 years, I can't imagine any choice more consequential for a lifelong journey than the choice of a traveling companion.
   
10. Call your mom and dad once in a while. A time will come when you will want your own grown-up, busy, hyper-successful children to call you. Also, remember who paid your tuition to Princeton.
   
Those are my suggestions. They're probably worth exactly what you paid for them. But they come from someone who shares your affection for this great institution and who wishes you the best for the future.
   
Congratulations, graduates. Give 'em hell.

--June 2, 2013------------------

1. Note to journalists: This is a joke. My leave from Princeton expired in 2005. Return to texto

Saturday, June 01, 2013

Tirar lições sobre o crescimento a partir da austeridade

 
Num recente conjunto de estudos, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff utilizaram uma vasta gama de dados históricos para mostrar que a acumulação de níveis elevados de dívida pública (e privada) relativamente ao produto interno bruto (PIB) tem um efeito negativo prolongado sobre o crescimento. A dimensão deste efeito desencadeou o debate sobre alguns erros de cálculo. Contudo, poucos duvidaram da validade deste padrão.
 
Isto não deverá ser surpreendente. Normalmente, a acumulação excessiva de dívida implica que alguma parte da procura agregada doméstica é adiantada, pelo que uma saída dessa dívida deve incluir mais poupanças e uma procura reduzida. O choque negativo tem um impacto adverso no sector não transaccionável, que é grande (aproximadamente dois terços de uma economia avançada) e totalmente dependente da procura doméstica. Como tal, as taxas de crescimento e do emprego caem durante o período de desalavacagem.

Numa economia aberta, a desalavancagem não prejudica, necessariamente, assim tanto o sector transaccionável. Mas, mesmo numa economia desse género, anos de procura interna dinamizada pela dívida pode produzir uma perda de competitividade e distorções estruturais. E a crise que, frequentemente, separa as fases de alavancagem e de desalavancagem conduz a danos adicionais nos balanços e prolongam o período de cura.

Graças, em parte, à investigação de Reinhart e Rogoff, sabemos hoje que uma alavancagem excessiva é insustentável e que o restabelecimento do balanço leva tempo. Em consequência, continuam as dúvidas e as questões relativamente a um eventual regresso à tendência anterior da crise para o PIB e, especialmente, para o emprego.

O que esta linha de pesquisa explicitamente não nos diz é que a desalavancagem vai restaurar o crescimento por si mesma. Ninguém acredita que o equilíbrio orçamental seja, em qualquer lado, o modelo completo de crescimento.

Observem a Europa do Sul. Do ponto de vista do crescimento e do emprego, a dívida pública e privada mascarou a ausência de crescimento da produtividade, queda da competitividade no sector transaccionável e um conjunto de deficiências estruturais subjacentes – incluindo a rigidez do mercado laboral, deficiências na educação e na formação de competências e um investimento insuficiente nas infra-estruturas. A dívida conduziu ao crescimento, criando uma procura agregada que não teria existido de outra maneira (o mesmo é verdade para os Estados Unidos e para o Japão, embora os pormenores sejam diferentes).

O governo não é o único actor em cena aqui. Quando o ciclo de desalavancagem se inicia, o sector privado começa a ajustar-se estruturalmente – um padrão visto claramente nos dados sobre o crescimento no sector transaccionável da economia norte-americana. Um limitado crescimento dos salários aumenta a competitividade e os recursos humanos e de capital que estão insuficientemente utilizados são reafectados.

A velocidade a que isto vai acontecer depende, em parte, da flexibilidade e do dinamismo do sector privado. Mas também está dependente da capacidade e da vontade do governo em ajudar a satisfazer as insuficiências na procura agregada e em seguir reformas e investimentos que impulsionem as perspectivas de crescimento a longo prazo.

Se a desalavancagem do sector público não é uma política de crescimento completa – e não é – por que é que é dada tanta atenção à austeridade orçamental e tão pouca ao crescimento e ao emprego?

Emergem aqui várias possibilidades – não mutualmente exclusivas. Uma é a de que algumas autoridades políticas pensam que o equilíbrio orçamental é, verdadeiramente, o principal pilar de uma estratégia de crescimento: desalavancar rapidamente e seguir em frente.

A crença de que o multiplicador orçamental é, em regra, baixo pode ter contribuído para subestimar os custos económicos no curto prazo de políticas de austeridade – e, assim, para as previsões persistentemente optimistas para o crescimento e para o emprego. Uma investigação recente do Fundo Monetário Internacional sobre a variabilidade dos multiplicadores orçamentais em determinados contextos levantou sérias dúvidas sobre o custo e a eficácia de uma consolidação orçamental acelerada.

As estimativas do multiplicador orçamental têm de ter como base uma hipótese ou um modelo que diga o que aconteceria na ausência de despesa pública de determinado tipo. Se a hipótese ou o modelo estiverem errados, também a estimativa o estará. O contra-factual precisa de ser tornado explícito e avaliado com prudência e dentro de um contexto.

Em alguns países com elevados níveis de dívida e com crescimento estagnado, os estímulos orçamentais podem aumentar o prémio de risco da dívida soberana e ser contraproducentes; outros têm uma maior flexibilidade. Os países variam amplamente no que diz respeito a danos nos balanços das famílias, o que afecta obviamente a sua capacidade para poupar – e, daí, o efeito multiplicador. A incerteza é a realidade e é necessário bom-senso.

Aparece, depois, a dimensão tempo. Se o investimento numa infra-estrutura, por exemplo, gera algum crescimento e emprego no curto e médio prazo e um maior crescimento sustentável no longo prazo, devemos exclui-lo apenas porque algumas estimativas do multiplicador são inferiores a um? Da mesma forma, se um estímulo orçamental tem os seus efeitos abafados porque quem recebe o rendimento está a poupar para restaurar os balanços familiares danificados, não é claro se vale a pena descontar o benefício de uma desalavancagem acelerada, mesmo se ele emergir, mais tarde, na procura doméstica.

Os políticos (e talvez os mercados financeiros) podem ter acreditado que os bancos centrais iriam servir como ponte para satisfazer as necessidades através de uma política monetária não convencional agressiva, desenhada para manter sob pressão as taxas de juro de curto e longo prazo. É certo que os bancos centrais desempenharam um papel essencial. Mas os bancos centrais já declararam que não têm os instrumentos políticos para acelerar o ritmo de recuperação económica.

Entre os custos e riscos das políticas de baixas taxas de juro está o regresso a um padrão de crescimento alavancado e a crescente incerteza relativamente aos limites da expansão do balanço de um banco central. Por outras palavras, será que o valor elevado dos activos, causado pelas baixas taxas a desconto, vai, de repente, voltar a cair a dado momento? Ninguém sabe.

Os países estão sujeitos a diferentes níveis de constrangimento orçamental, assumindo (especialmente no caso da Europa) um apetite diminuto por transferências além-fronteiras ilimitadas e incondicionais. Aqueles que têm alguma flexibilidade podem, e devem, usá-las para proteger os desempregados e os jovens, para acelerar a desalavancagem e para implementar reformas com o intuito de apoiar o crescimento e o emprego; as opções dos que não têm flexibilidade – e as suas perspectivas de crescimento a médio prazo – são mais restritivas.

Todos os países – e os decisores políticos – enfrentam escolhas difíceis no que diz respeito ao calendário da austeridade, ao risco do crédito soberano percepcionado, às reformas orientadas para o crescimento e à distribuição equitativa dos custos com o restabelecimento do crescimento. Até aqui, o desafio da partilha com os encargos, juntamente com modelos de crescimento ingénuos e incompletos, pode ter contribuído para o impasse e para a inacção.

A experiência pode ser um duro professor, apesar de necessário. O crescimento não vai ser restabelecido nem rápida nem facilmente. Talvez precisemos que a preocupação com a austeridade nos ensine o valor de uma agenda para o crescimento equilibrada.

In  Negócios online

Michael Spence, Nobel da Economia, é professor de Economia na Stern School of Business, da Universidade de Nova Iorque, e conselheiro no Instituto Hoover.
 
Copyright: Project Syndicate, 2013.
www.project-syndicate.org
Tradução: Diogo Cavaleiro

Saturday, August 25, 2012

Albert Camus divide a Francia, todavía

El historiador Benjamin Stora ha sido sustituido por el filósofo Michel Onfray al frente de la muestra de su centenario | Detrás de la decisión se atisban discrepancias políticas sobre la guerra colonial de Argelia


Alberto OJEDA | Publicado el 24/08/2012, in El Mundo

El 7 de noviembre de 2013 se cumplirán cien años del nacimiento de Albert Camus. Es una efeméride redonda que obliga a recordar a uno de los escritores que marcaron el siglo XX con una huella más profunda. En Francia ya se esfuerzan por estar preparados para entonces y honrarle como merece. Pero la figura de Camus, cuando intenta manejarse por instituciones oficiales que representan y ejercen el poder político, resulta cuando menos espinosa y todavía se rebela frente a cualquier tipo de simplificación o domesticación. Por eso están surgiendo las primeras polémicas en torno a los contenidos de la conmemoración.

Uno de los principales es la exposición dedicada al autor de El extranjero en Aix en Provence. La organización de la muestra estaba siendo comisariada por el historiador Benjamin Stora, uno de los más relevantes estudiosos de la historia argelina (en particular, de los vaivenes de su colonización) en toda Francia. Tras dos años trabajando en el proyecto recibió una llamada de la mancomunidad de pays d'Aix (la autoridad regional) que le comunicaba la cancelación de la muestra. Las razones alegadas tenían que ver con la escasez de presupuesto y dificultades logísticas.

Pero son numerosas las sospechas de que detrás de aquella decisión había un trasfondo más enrevesado. Stora quería poner de relieve la vinculación de Camus con Argelia. Hay que recordar que el escritor era un pied noir (residentes en el país norteafricano de origen francés, que llegaron a alcanzar el millón). Él, cuando los argelinos se alzaron en lucha por su independencia, mantuvo una posición intermedia entre la comunidad gala asentada allí y los rebeldes. Estaba de acuerdo en que Francia debía otorgar mayor autogobierno a su colonia pero no comulgaba con la independencia. Ese ejercicio de equilibrismo, que no buscaba otra cosa que la convivencia pacífica entre pieds noirs y la población nativa, fue mal visto por casi todos. En particular, por los primeros, que le consideraron un traidor a su propia identidad.

Cuando Argelia alcanzó la independencia, en 1962, los franceses radicados allí se desplazaron de vuelta a la metrópoli. Buena parte de esa comunidad se instaló en la región en la que se encuentra Aix en Provence (se calcula que de sus 140.000 habitantes unos 40.000 son pieds noirs). También allí vivió Camus con su familia, en la casa de campo que tenía en Lourmarin. Y allí sigue viviendo su hija Catherine. Esos pieds noirs aún recuerdan el papel de Camus en la guerra colonial y no están muy abiertos a la idea de reivindicarle en su tierra. Menos en una exposición a cargo de un intelectual cercano en su día al Frente de Liberación Nacional argelino. Stora, además, quería resaltar en la exposición el humanismo de Camus durante esta guerra, que le llevó a denunciar las torturas y las penas de muerte impuestas a cientos de independentistas.



Barricada en la ciudad de Argel, durante la guerra colonial. Foto: Christophe Marcheux .

El historiador ha llegado a poner sobre la mesa la palabra "censura". "No soy ciego -ha declarado en Libération-, he leído lo escrito por Maryse Joissains-Masini, la alcaldesa de Aix en Provence [de la derecha popular], sobre la Argelia francesa y conozco el peso de los pied noirs. Se esconden detrás de consideraciones técnicas, pero la verdad es que el comité organizador de Marsella 2013 no ha tenido la valentía de sostenerme". Stora habla de este comité porque la exposición de Camus se enmarcaría en los actos de la capitalidad europea de la cultura que ostentará la ciudad el año próximo. Por si fuera poco, este académico ha publicado recientemente un libro en el que acusa François Miterrand, ministro de Interior y de Justicia durante la guerra de Argelia, de no haber levantado casi ninguna pena de muerte.

La cancelación de la exposición de Camus era una medida muy radical. Tanto que los responsables políticos de Aix en Provence se han visto forzados a reconsiderarla. Finalmente han optado por incluirla de nuevo en el programa conmemorativo. Eso sí, con un cambio notable: la función de comisario la ejercerá ahora el Michel Onfray (autor de El orden libertario. La vida filosófica de Albert Camus), que ha exigido como condición para aceptar el cargo que la muestra sea permanente. El mediático pensador también se ha apresurado a advertir, con intención de no avivar más la controversia, que él no sustituye a Stora, sino que le sucede en su antigua responsabilidad. "Pero entiendo que muchos quieran ahora montar una absurda dicotomía entre una Onfray camusiano, apoyado por la derecha, y un Benjamin Stora sartriano respaldado por la izquierda". Y remacha: "En realidad, entre él y yo no hay muchas diferencias en la visión que tenemos de la guerra de Argelia".

Pero visto lo visto es difícil aproximarse a este contencioso abstrayéndose de sus aristas políticas. La polarización resulta todavía más evidente al conocer la reacción al cese de Stora de la ministra de Cultura del gobierno socialista de Hollande. Aurélie Filippetti, aparte de lamentar que no le ha sido consultado, lo considera un error: "La exposición de Stora hubiese sido la verdaderamente atractiva, porque él es un gran admirador de Camus y máximo especialista en la guerra de Argelia. Además, pertenece a los mismos paisajes físicos y mentales de Camus". Filippetti incluso ha advertido que el Estado no pondrá un solo euro para financiar la muestra.

No está claro pues qué enfoque se le va a dar a la exposición. Es probable que el conflicto armado en Argelia se aborde de forma más somera, para no herir sensibilidades. Habrá que estar atentos el 7 de noviembre del año próximo, cuando, si las desavenencias en torno al escritor francés no la malogran, se inaugurará la exposición. Entretanto, uno no deja de preguntarse qué estará pensando Camus de la enconada dialéctica que sigue despertando entre sus compatriotas. Donde quiera que esté.