O programa de modernização do secundário foi lançado há um ano. Sócrates visitou estabelecimentos de ensino onde os trabalhos estão finalmente a começar
Há operários de capacete a trabalhar, muitos móveis e mesas foram empilhados, salas de paredes bolorentas estão vazias. O ano lectivo está prestes a arrancar, mas nas escolas secundárias Filipa de Lencastre, Passos Manuel e Pedro Nunes, em Lisboa, nunca começou assim. Nos pátios e recreios foram colocados contentores onde algumas aulas vão acontecer à medida que as obras de remodelação que por estes dias estão a começar forem avançado nos edifícios.
A sensação de estaleiro tem uma explicação: "Queremos construir escolas do nosso tempo", disse Sócrates que, já no final, admitiria que "a sensação que temos é que já vamos tarde". O primeiro-ministro visitou ontem os três antigos liceus. E ficou "espantado" com o estado "deprimente" a que o parque escolar chegou. Com o périplo pelos estabelecimentos de Lisboa, assinalou o início da primeira fase do Programa de Modernização das Escolas com Ensino Secundário que foi lançado há mais de um ano com um objectivo: "Requalificar e modernizar", até 2015, 330 escolas. "Esta é talvez a melhor forma de começar o ano lectivo", diria, a certa altura, o primeiro-ministro, durante uma visita em que toda a comitiva se deslocou de escola para escola em autocarros fretados.
Logo pela manhã, a ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, antecipava o discurso optimista: "[Este] é um ano em que teremos mais cursos profissionais, mais investimento nas escolas, mais apoio para as famílias...", declarava à TSF
Na primeira fase do Programa de Modernização são 26 os estabelecimentos alvo de intervenção, 11 dos quais em Lisboa e Vale do Tejo. O que implica um investimento de 209 milhões. Mas implica também alguma paciência de alunos e professores. "Não vai ser fácil", dizia Manuela Sena, presidente da comissão instaladora da Filipa de Lencastre. É que as aulas não serão interrompidas, apesar de muitas das obras serem profundas, eventualmente ruidosas, e poderem prolongar-se por 16 meses.
Chove "como na rua"Para já, o investimento é de 209 milhões de euros e beneficiará 32 mil alunos. Sócrates diz que a comunidade escolar está mobilizada. Até porque trabalhou, nos últimos meses, com os arquitectos, na definição dos projectos de intervenção. "Demorou mais tempo" do que era suposto, reconheceu. "Mas ficou melhor."Na Secundária com Ensino Básico Pedro Nunes, Sócrates viveu a primeira surpresa do dia. Perante um recreio cheio de contentores brancos, Sintra Nunes, director da Parque Escolar EPE (a entidade que tem por missão concretizar o Programa de Modernização), explicou ao primeiro-ministro que nas 26 escolas há 240 contentores assim: "São os monovolumes onde vai haver aulas à medida que a intervenção vai sendo feita".
Sócrates supreendeu--se: "Pensava que fossem contentores para as obras." Engano. Não só não são meros "contentores para as obras", como, explicou-lhe Maria de Lurdes Rodrigues, são salas de aula "do melhor" e muito apreciadas. De resto, já houve quatro escolas que, a título de fase experimental do Programa de Modernização, foram sujeitas a intervenções e estão prestes a abrir portas quando a 15 de Setembro as aulas começarem.
A saber: Escola Secundária Rodrigues de Freitas e Escola Soares dos Reis, no Porto, e Secundária D. Dinis e Pólo de Educação D. João de Castro, em Lisboa.Seja como for, todos os eventuais incómodos que resultem das obras valem a pena, acredita o Governo. E o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, que dizia, enquanto olhava para uma grande mancha de humidade no tecto de uma sala de aula, que "o estado do parque escolar é catastrófico".
Nas salas da Filipa de Lencastre, por exemplo, chove durante o Inverno "como na rua" (expressão de uma professora), a humidade tomou conta das paredes, os fios eléctricos estão à vista. E no Passos Manuel e no Pedro Nunes, que abriram as portas em 1911, ainda há equipamentos que nunca foram substituídos."Educação é a prioridade""Queremos fazer uma escola que represente um orgulho para os portugueses", afirmou depois da apresentação dos objectivos do Programa de Modernização: melhorar as condições, o conforto, os laboratórios, as oficinas, garantir a eficiência energética dos edifícios. "A Educação é a prioridade das prioridades ao nível das políticas públicas", frisou. Até ao ano passado só 26 por cento dos fundos comunitários estavam dedicados à Educação "e, neste momento, são 37 por cento".
"Todas as escolas do país que precisem de obras de requalificação vão tê-las", disse. Para o ano, arrancam outros projectos, em mais 75 escolas, que envolverão mais de 536 milhões de euros. "Não estamos a tapar buracos", garantiu o primeiro-ministro. "O desafio é requalificar", mantendo a identidade destas escolas. No Pedro Nunes, por exemplo, haverá um novo polidesportivo coberto e um novo edifício central com cinco laboratórios e salas para tecnologias de informação e comunicação.
Na Filipa de Lencastre as obras estendem-se às duas escolas de 1.º ciclo das redondezas, com o financiamento da câmara municipal, e duplicam a sua área. Um exemplo que Maria de Lurdes Rodrigues gostaria de ver disseminado porque "o ministério preocupa-se com todos os alunos", independentemente de serem de escolas que estão sob a alçada das câmaras ou da administração central.
Público - 03.09.2008, Andreia Sanches
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