O “PÚBLICO” de 6 de Julho de 2005, num trabalho de Inês Sequeira (com a LUSA) divulgou uma resenha do estudo da Saer, de autoria de Ernâni Lopes, apresentado no ”Congresso da Confederação de Turismo”, no qual se sublinha a importância do “Turismo Sénior” que, conjuntamente com o “turismo de negócios”, deveria ser uma aposta nacional para o desenvolvimento da actividade turística nacional.
Assinalável é ainda a notícia de que Portugal ficará, em 2020, fora dos 10 principais destinos turísticos mundiais onde a China, na projecção da OMT, ocupará o primeiro lugar.
O reconhecimento da China como a maior potência turística do futuro além do conhecimento de que, nos plano económico e financeiro global, rivalizará com os USA e a UE, deveria levar os dirigentes políticos, a todos os níveis, a cuidar de salvaguardar as relações amistosas de Portugal com a China e a penalizar, de forma dura e exemplar, aqueles que, como o Dr. Jardim, promovem a inimizade e o conflito luso-chinês.
No que respeita à China as palavras xenófobas de Jardim são, sem dúvida, de uma profunda gravidade não só plano dos princípios, o que sempre poderá ser desvalorizado pelo facto da China não ser, de facto, um estado democrático, mas ainda mais no plano pragmático da diplomacia, da economia e das finanças. Portugal, enquanto nação independente, membro de pleno direito da UE, com um passado secular de relações com a China, não pode encolher os ombros face aos dislates do Dr. Jardim. Adiante.
Quer a importância estratégica do “turismo sénior” quer a ascensão da China a primeira potência do turismo mundial não são, de facto, novidades pois, desde há muito tempo, são conhecidos estudos e projecções que apontam nesse sentido e são do conhecimento dos responsáveis do turismo nacional e mundial.
Desde há 10 anos que, eu próprio, conheço essa realidade, quer na qualidade de responsável máximo do INATEL (de 1996 a 2003), principal promotor de “turismo sénior”, em Portugal, quer como membro de diversas organizações internacionais de turismo, inclusive a OMT, através dos debates e actividades desenvolvidas no seio dessas organizações.
Por esta ser uma realidade conhecida, condicionando fortemente o futuro da actividade turística e da economia nacional, à qual acresce a crise da economia nacional, e europeia, seria de esperar que nas prioridades do governo surgissem sinais claros de inequívoco incentivo ao “turismo sénior”, nas suas diversas vertentes, incluindo a do termalismo.
Pode ser que tais incentivos estejam nas perspectivas estratégicas do governo mas convinha que se soubesse qual a evolução recente do “turismo sénior”, promovido pelo INATEL, e quais as perspectivas da sua evolução, em quantidade e qualidade, para os próximos anos.
Aqui deixo, a propósito, a notícia a que faço referência no início deste texto.
”O caminho para aumentar a competitividade da oferta turística portuguesa terá de passar pela concentração progressiva do sector apenas em alguns produtos, nomeadamente nos binómios turismo sénior/saúde eturismo de negócios/short breaks (dois a três dias de férias), salienta o estudo Reinventando o turismo em Portugal, ontem apresentado no segundo congresso da Confederação do Turismo Português (CTP). Este documento de quase mil páginas, coordenado pelo economista Ernâni Lopes, propõe uma estratégia neste domínio tendo em conta as previsões do contexto mundial até 2025.
"Portugal não só não possui escala, aptidões e recursos que lhe permitam apostar indiscriminadamente em todos os produtos, como também não possui condições que lhe permitam alterar, no curto prazo, o perfil da oferta instalada", indica o estudo realizado pela consultora SaeR, a pedido da CTP. Tanto o turismo de negócios aliado aos short breaks como o turismo sénior ligado à saúde têm "elevado potencial de crescimento e de geração de valor", ao mesmo tempo que podem "complementar" outros segmentos de procura. Em causa está o turismo residencial, o desporto (golfe, por exemplo), o turismo urbano e o turismo cultural.
Já o produto "sol e praia" irá sofrer uma "crescente dificuldade em competir com novos destinos emergentes e uma clara tendência para a degradação das condições competitivas", mas continuará no curto e no médio prazo a ser a "base" da oferta turística portuguesa. Embora represente cerca de 100 milhões de chegadas todos os anos para a zona do Mediterrâneo, o estudo ontem apresentado indica que os resultados desta estratégia irão manter-se pouco interessantes: taxas de crescimento "abaixo da média", gastos médios "pouco interessantes", sazonalidade elevada e níveis de fidelização "baixos". Conclusão? Uma vez "que não pode ser abandonado", tem de se apostar na requalificação.
Em termos de medidas urgentes, Ernâni Lopes considerou que os agentes privados do sector devem avançar rapidamente com a criação de um fórum empresarial para a excelência e cooperação no turismo, de forma a "pôr os actores relevantes [do sector] em contacto e em diálogo uns com os outros". Defendeu também a organização de uma autoridade nacional e de um conselho estratégico de turismo - juntando entidades públicas e privadas -, de preferência sob a alçada de um ministério específico para o sector.
Fora do top 10 em 2020 Portugal irá estar fora dos dez primeiros destinos turísticos à escala mundial em 2020, de acordo com as novas previsões da Organização Mundial de Turismo, que nas anteriores projecções indicava o país como um dos futuros top 10. Os novos dados foram ontem divulgados durante o congresso pelo responsável para a Europa desta agência especializada da ONU, Luigi Cabrini, que apontou para um crescimento médio de 2,1 por cento entre 1995 e 2020, abaixo da média de três por cento projectada para a Europa.
Assim, em 2020 deverão chegar 16 milhões de turistas a território português, contra 11,6 milhões no ano passado. Neste ano, Portugal terá recebido menos um por cento de turistas do que em 2003, mas as receitas cresceram oito por cento, para 6,3 mil milhões de euros.
A China será o principal destino mundial em 2020, seguida da França, Estados Unidos da América e Espanha."
Sunday, July 10, 2005
Friday, July 01, 2005
A propósito das campanhas contra a política do governo socialista
Nenhum governo socialista pode esquecer as pessoas, nem pode esquecer a luta contra as desigualdades, logo a justiça social, nem esquecer a busca dos consensos, logo o diálogo social.
Mas o que está em causa, agora e aqui, é a questão da capacidade competitiva de um país que, como Portugal, aceitou integrar uma comunidade de países mais vasta: a UE.
O comissário espanhol, Joaquín Almunia, responsável pelos Assuntos Económicos e Monetários, identificou com muita acuidade o problema quando, a propósito do chamado “procedimento por deficit excessivo” que foi levantado contra Portugal, no passado dia 22 de Junho, afirmou:
"O que Portugal e a Europa necessitam não é de um défice e de uma dívida em agravamento, mas sim de um círculo virtuoso de reformas económicas e de ajustamentos orçamentais de carácter estrutural, com o objectivo de criar margem para o tipo de despesas que fomenta a competitividade e que conduz a um crescimento mais dinâmico e à criação duradoura de emprego".
Acrescentaria que Portugal e a Europa não necessitam da mentira a propósito de tudo e de nada e, muito menos, em questões de interesse nacional, como é o caso do deficit, alvo de recentes exercícios perversos, em cartas de Santana e artigos de Bagão Félix. A máscara, finalmente, caiu.
Em Portugal é aos socialistas que cabe sempre a tarefa de aplicar os programas de austeridade. Assim foi com Mário Soares, em 1983, preparando as condições para a adesão à CEE, ocorrida em 1985, para benefício de Cavaco que, alcançado o poder, desfrutou, entre 1985 e 1995, da maior avalanche de apoios financeiros externos de que há memória na nossa história recente.
A reforma do estado, com a consequente consolidação orçamental, ficou para depois e, passados 20 anos, o país está confrontado com uma nova época de austeridade que iniciou agora a sua marcha abrindo uma “guerra de longa duração” caso se destine, como se espera e deseja, a encetar uma reforma global do Estado e a mudar a natureza do seu papel na sociedade.
Não é possível pensar qualquer modelo sustentável de “estado social” no qual os cidadãos vivem cada vez mais tempo e alcancem o direito à reforma cada vez mais cedo.
A míngua dos recursos financeiros do estado, para assegurar as pensões de reforma, cresce exponencialmente pois cada vez mais trabalhadores, de todas as profissões e escalões de qualificação, alcançam a idade da reforma quando se tornam cinquentenários (os chamados “babby-boomers”, nascidos entre 1945 e 1955), ao mesmo tempo que a esperança de vida avança a passos largos para os 80 anos. A segurança social e a saúde são os dois principais sectores onde se pressagia, desde há muito tempo, o naufrágio do “estado social” em Portugal.
Mas o que dizer da educação que apresenta dos piores indicadores (senão o pior) na relação custo/benefício entre todos os países da UE?
Os diagnósticos estão feitos e não há muitas alternativas para resolver a magna questão da mudança de paradigma do chamado “modelo social europeu”. Trata-se de encetar uma reforma profunda do Estado, modernizar, colocar a “coisa pública” ao serviço dos cidadãos, quebrar privilégios e rotinas ancestrais. As reformas são necessárias. Todos o sabemos e não vale a pena continuar a olhar para o umbigo e enterrar a cabeça na areia.
Por isso não é de estranhar que toquem tambores açulando a multidão contra as políticas dos socialistas como se estes fossem traidores ao cumprimento da esperança de redenção das velhas utopias do socialismo igualitário. Mas tal como o sonho do socialismo libertário, há muito, morreu, também a utopia igualitária é um sonho que pertence às relíquias do socialismo.
Neste contexto a esquerda não pode continuar agarrada às velhas bandeiras do socialismo igualitário entendendo, de uma vez por todas: primeiro, que a justiça social só é viável criando riqueza; segundo, que se não pode distribuir o que não há; terceiro, que é preciso trabalhar; quarto, mais do que trabalhar, é preciso trabalhar melhor e durante mais tempo.
A esquerda será mesmo o lugar da mudança? Ou o lugar do imobilismo? Há muitos portugueses que se sentem sempre devedores das benesses e da gratidão do estado. Nunca se sentem obrigados a dar nada e estão sempre prontos a tudo receber. Desprezam a iniciativa e tremem perante qualquer inovação. São os conservadores, sem princípios, que amarram a nação à perpétua humilhação de um estatuto internacional de “mão estendida”.
É em nome desses portugueses que se bate a esquerda? Para quê? Para favorecer o regresso à autarcia, ao “orgulhosamente sós” de Salazar, à negação dos próprios valores fundamentais da liberdade, ou seja, o contrário da afirmação da autonomia do homem e da sua individualidade perante todas as tutelas.
A esquerda é o lugar da liberdade! Mesmo quando parece que a liberdade está contra a justiça é sempre preferível escolher a liberdade. Porque a liberdade preserva as condições de lutar contra a injustiça. E a justiça sem liberdade é, sempre, o caminho da tirania.
Ao PS, no governo ou fora dele, compete salvaguardar estes princípios tomando como certo que, ao contrário do que alguns querem fazer crer, o somatório das corporações não é o povo português. As corporações representam apenas uma pequena parte do povo tendo-se, no entanto, apoderado de um poder desmesurado e ilegítimo que é exercido, a mais das vezes, ao arrepio dos princípios de um verdadeiro estado de direito democrático.
Não espanta que os seus beneficiários se encarnicem lançando campanhas contra as medidas anunciadas pelo governo socialista. Ora estas campanhas são a melhor contraprova da justeza, no essencial, dessas medidas.
(Artigo publicado no "Semanário Económico" na edição de 1 de Julho de 2005)
Mas o que está em causa, agora e aqui, é a questão da capacidade competitiva de um país que, como Portugal, aceitou integrar uma comunidade de países mais vasta: a UE.
O comissário espanhol, Joaquín Almunia, responsável pelos Assuntos Económicos e Monetários, identificou com muita acuidade o problema quando, a propósito do chamado “procedimento por deficit excessivo” que foi levantado contra Portugal, no passado dia 22 de Junho, afirmou:
"O que Portugal e a Europa necessitam não é de um défice e de uma dívida em agravamento, mas sim de um círculo virtuoso de reformas económicas e de ajustamentos orçamentais de carácter estrutural, com o objectivo de criar margem para o tipo de despesas que fomenta a competitividade e que conduz a um crescimento mais dinâmico e à criação duradoura de emprego".
Acrescentaria que Portugal e a Europa não necessitam da mentira a propósito de tudo e de nada e, muito menos, em questões de interesse nacional, como é o caso do deficit, alvo de recentes exercícios perversos, em cartas de Santana e artigos de Bagão Félix. A máscara, finalmente, caiu.
Em Portugal é aos socialistas que cabe sempre a tarefa de aplicar os programas de austeridade. Assim foi com Mário Soares, em 1983, preparando as condições para a adesão à CEE, ocorrida em 1985, para benefício de Cavaco que, alcançado o poder, desfrutou, entre 1985 e 1995, da maior avalanche de apoios financeiros externos de que há memória na nossa história recente.
A reforma do estado, com a consequente consolidação orçamental, ficou para depois e, passados 20 anos, o país está confrontado com uma nova época de austeridade que iniciou agora a sua marcha abrindo uma “guerra de longa duração” caso se destine, como se espera e deseja, a encetar uma reforma global do Estado e a mudar a natureza do seu papel na sociedade.
Não é possível pensar qualquer modelo sustentável de “estado social” no qual os cidadãos vivem cada vez mais tempo e alcancem o direito à reforma cada vez mais cedo.
A míngua dos recursos financeiros do estado, para assegurar as pensões de reforma, cresce exponencialmente pois cada vez mais trabalhadores, de todas as profissões e escalões de qualificação, alcançam a idade da reforma quando se tornam cinquentenários (os chamados “babby-boomers”, nascidos entre 1945 e 1955), ao mesmo tempo que a esperança de vida avança a passos largos para os 80 anos. A segurança social e a saúde são os dois principais sectores onde se pressagia, desde há muito tempo, o naufrágio do “estado social” em Portugal.
Mas o que dizer da educação que apresenta dos piores indicadores (senão o pior) na relação custo/benefício entre todos os países da UE?
Os diagnósticos estão feitos e não há muitas alternativas para resolver a magna questão da mudança de paradigma do chamado “modelo social europeu”. Trata-se de encetar uma reforma profunda do Estado, modernizar, colocar a “coisa pública” ao serviço dos cidadãos, quebrar privilégios e rotinas ancestrais. As reformas são necessárias. Todos o sabemos e não vale a pena continuar a olhar para o umbigo e enterrar a cabeça na areia.
Por isso não é de estranhar que toquem tambores açulando a multidão contra as políticas dos socialistas como se estes fossem traidores ao cumprimento da esperança de redenção das velhas utopias do socialismo igualitário. Mas tal como o sonho do socialismo libertário, há muito, morreu, também a utopia igualitária é um sonho que pertence às relíquias do socialismo.
Neste contexto a esquerda não pode continuar agarrada às velhas bandeiras do socialismo igualitário entendendo, de uma vez por todas: primeiro, que a justiça social só é viável criando riqueza; segundo, que se não pode distribuir o que não há; terceiro, que é preciso trabalhar; quarto, mais do que trabalhar, é preciso trabalhar melhor e durante mais tempo.
A esquerda será mesmo o lugar da mudança? Ou o lugar do imobilismo? Há muitos portugueses que se sentem sempre devedores das benesses e da gratidão do estado. Nunca se sentem obrigados a dar nada e estão sempre prontos a tudo receber. Desprezam a iniciativa e tremem perante qualquer inovação. São os conservadores, sem princípios, que amarram a nação à perpétua humilhação de um estatuto internacional de “mão estendida”.
É em nome desses portugueses que se bate a esquerda? Para quê? Para favorecer o regresso à autarcia, ao “orgulhosamente sós” de Salazar, à negação dos próprios valores fundamentais da liberdade, ou seja, o contrário da afirmação da autonomia do homem e da sua individualidade perante todas as tutelas.
A esquerda é o lugar da liberdade! Mesmo quando parece que a liberdade está contra a justiça é sempre preferível escolher a liberdade. Porque a liberdade preserva as condições de lutar contra a injustiça. E a justiça sem liberdade é, sempre, o caminho da tirania.
Ao PS, no governo ou fora dele, compete salvaguardar estes princípios tomando como certo que, ao contrário do que alguns querem fazer crer, o somatório das corporações não é o povo português. As corporações representam apenas uma pequena parte do povo tendo-se, no entanto, apoderado de um poder desmesurado e ilegítimo que é exercido, a mais das vezes, ao arrepio dos princípios de um verdadeiro estado de direito democrático.
Não espanta que os seus beneficiários se encarnicem lançando campanhas contra as medidas anunciadas pelo governo socialista. Ora estas campanhas são a melhor contraprova da justeza, no essencial, dessas medidas.
(Artigo publicado no "Semanário Económico" na edição de 1 de Julho de 2005)
Subscribe to:
Posts (Atom)