“O que não me faz morrer torna-me mais forte”
(Nietzsche, citado por Camus)
Os portugueses desejam estabilidade política. Nos últimos 33 anos – escrevo no dia 25 de Abril de 2007 – passaram demasiados governos e ministros pelas “pastas”, ouviram-se, vezes demais, baques surdos de quedas e portas a bater, deixaram-se muitos projectos na gaveta, desperdiçaram-se abundantes recursos e perderam-se preciosas oportunidades para mudar o destino do país. Já basta!
Eu sei que a luta política é feita de duros confrontos e de canalhices sem nome, que a economia real não se compadece com cedências às facilidades e, tantas vezes, “esquece” o lado não mercantil da vida das comunidades como se o fim último do trabalho e da criação de riqueza não fosse a luta pelo bem comum e pela felicidade do homem.
Mas como não me tenho cansado de referir, contra a cegueira de alguma esquerda suicidária, o actual governo socialista, e o seu líder, são o máximo, e não o mínimo, denominador comum possível capaz de encetar a reforma de um estado arruinado, erigido como fortaleza dos privilégios de miríades de corporações, salvando do colapso o “estado social”.
Os saudosos que querem liquidar a estabilidade política, arrombando a actual maioria, legitimamente alcançada nas urnas, sonham com o impossível: manter privilégios iníquos e albergar, sob a magnanimidade do estado, actividades obsoletas ou ilegítimas, esquecendo que Portugal, caso não cumpra os seus compromissos com a UE, sofrerá duras consequências.
Simpatizemos, ou não, com o pragmatismo de Sócrates é necessário assumir, de vez, que não há outro destino para Portugal senão a UE. O busílis da política nacional está em que uma parte da sociedade portuguesa ainda não aceitou esta realidade o que ajuda a compreender a razão do nevoeiro que encobre as “fugas” de Guterres e Barroso! Eles sabiam, no contexto político e estratégico europeu, o que tinha que ser feito mas não foram capazes de concretizar as reformas mais difíceis, em particular, a reforma do estado.
De facto, muitas das medidas de política interna, resultantes do compromisso europeísta, exigem mudanças drásticas, em particular, no papel, funções e peso do estado na economia, e as dificuldades de hoje resultam mais do atraso da plena assumpção desta realidade pelos governos anteriores, desde Cavaco Silva, do que da persistência do actual Governo socialista em concretizar as reformas a que se comprometeu.
Todo este arrazoado foi suscitado pela execranda tentativa de assassinato de carácter do primeiro-ministro tomando como pretexto o seu percurso académico e a autenticidade dos diplomas dos cursos que trilhou. Nas vésperas de Portugal assumir a Presidência da UE o pior que poderia acontecer ao País seria o Governo deixar a meio as reformas encetadas, o primeiro-ministro deixar-se chantagear e, finalmente, fugir.
Repetir, nos dias de hoje, Guterres, em 2001, ou Barroso, em 2004, teria um custo insuportável para o País e mais vale o PS, e o seu governo, perderem popularidade do que coerência. Em política a popularidade recupera-se, a coerência perde-se para sempre.
(Artigo publicado na edição de 4 de Maio de 2007 do “Semanário Económico”)