Presidi aos destinos do INATEL durante 7 anos. Devo ser, pois, o cidadão português, vivo, que durante mais tempo exerceu aquelas funções.
Tomei conhecimento que o Senhor Presidente da República , no 10 de Junho passado, atribuiu ao INATEL uma condecoração pelos méritos no desempenho das missões que o Estado lhe tem conferido, desde 1935, primeiro com a designação de FNAT e, posteriormente ao advento da liberdade e democracia, como INATEL.
Não tenho dúvidas acerca do merecimento desta distinção. A este propósito poder-se-á afirmar que nunca é tarde demais, mas sempre prefiro tomar, para meu descanso de alma, o sábio ensinamento que Camões nos deixou nos seus límpidos versos:
Porque essas honras vãas, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão à gente,
Melhor é merecê-los, sem os ter
Que possuí-los sem os merecer....
--------------------
No contexto de uma crise de aplicação prática do conceito de “desenvolvimento sustentável”, de que a seca extrema e os incêndios florestais são exemplos paradigmáticos, volto a um tema que me é caro.
Não venho à colação engrossar a ladainha dos desesperançados profissionais que, na actual circunstância histórica, levantam a voz contra os grandes projectos de investimento público, vendo neles, paradoxalmente, o ocaso do progresso de uma nação empobrecida.
Para que se entenda esta minha recidiva é necessário esclarecer que venho falar de casos de investimento público concreto resultantes do facto de a partir de 1996, após longos anos de adormecimento, o INATEL ter despertado para a inovação através da promoção de iniciativas orientadas para o desenvolvimento local e regional.
O INATEL, sob a minha direcção, de 1996 aos inícios de 2003, lançou iniciativas e projectos, que assumiram a importância desta problemática e, nalguns casos a anteciparam, contribuindo, de forma original, para a modernização e desenvolvimento da actividade turística nacional.
São exemplos marcantes destes contributos, entre outros, o crescimento e alargamento, a todo o território nacional, do Programa “Turismo Sénior”, o lançamento do Programa “Saúde e Termalismo Sénior”, a elaboração da “Carta de Lazer das Aldeias Históricas” e a criação de “Centros Integrados de Lazer”.
Foi nesta perspectiva de modernização do INATEL que foram elaborados e subscritos, em finais de 2001, protocolos com as Câmaras Municipais de Fornos de Algodres e de Aguiar da Beira tendo em vista a criação de uma unidade hoteleira (Centro de Férias) em Vila Ruiva – Fornos de Algodres – e a reabilitação das termas das Caldas da Cavaca – Aguiar da Beira.
A estratégia desenvolvida nestes, como noutros casos, encerra-se em duas palavras: “reciclagem de investimentos”. O INATEL assumiu o papel da parceiro catalizador das sinergias necessárias à “reciclagem de investimentos”, já encetados pelas autarquias, tornando-os úteis no plano social, viáveis no plano económico e credíveis no plano do desenvolvimento local e regional.
Tal conceito não poderia ser aplicado caso não encontrasse eco em modelos de gestão autárquica, honestos, criativos e abertos, nas antípodas do labéu de corrupção que certas notícias querem generalizar, abusivamente,a todo o universo das autarquias.
Tornaram-se, assim, “projectos âncora” promotores do “desenvolvimento sustentável” de concelhos empobrecidos que, desde o modelo de parceria ao conceito de gestão adoptado, incluindo a qualidade arquitectónica e integração paisagística das intervenções, conjugam todas as condições para cumprirem os sonhos dos seus promotores.
O esforço de investimento público que estes projectos exigem, às autarquias respectivas, é enorme e pode ser causticado, a nível local e regional, com a mesma verrina dos grandes empreendimentos públicos nacionais pois sendo ”pequenos projectos”, no contexto nacional, são grandes empreendimentos no contexto das economias daqueles concelhos.
Mas já todos deveríamos ter aprendido que deixar ao abandono as regiões pobres do interior é “puxar fogo”, a prazo, às regiões ricas do litoral.
Se for analisado o “ADN” das obras, em breve a inaugurar, descobrir-se-á a sua paternidade que, desde logo, fica facilitada pelo conhecimento dos princípios que presidiram à sua concepção:
- Projectos apostados na integração no meio através de acções e actividades destinadas a promover o desenvolvimento local e regional, assegurando a participação das comunidades locais, preferencialmente, através de convénio(s) com as Autarquias;
- Privilégio à salvaguarda do meio ambiente e da qualidade de vida das comunidades locais, através da reutilização e rentabilização de equipamentos físicos preexistentes, promovendo, quando necessário, a sua adequada reabilitação, utilizando materiais e tecnologias não poluentes;
- Criação de equipamentos e programas, de dimensão física e económica adequada à capacidade de acolhimento da região respectiva, permitindo uma oferta turística variada, multi disciplinar, criadora de empregos e indutora do desenvolvimento da economia local;
- Estabelecimento de parcerias com as Autarquias, proprietárias dos equipamentos físicos, sendo a gestão dos mesmos, após a sua entrada em funcionamento, da responsabilidade exclusiva do INATEL.
No que respeita à minha contribuição, extensiva a todos os meus colaboradores, para os méritos da acção do INATEL acompanho Tomaz Kim quando sintetiza o conceito de Tradição: “é um conceito dinâmico que envolve um lúcido sentido histórico, aliado à força criadora dos que a perpetuam, rejuvenescendo-a, por se saberem integrados num património universal e vivo”.
Assim soubessem todos os governantes que, no passado recente, assumiram a tutela política do INATEL ser fiéis e honestos guardiões deste conceito dinâmico da Tradição honrando a memória dos mortos e defendendo a honra dos vivos.
(Artigo publicado na edição de hoje, 2 de Setembro de 2005, do "Semanário Económico")
1 comment:
Abraço.JPN
Post a Comment