Não costumo alargar-me muito em considerações críticas acerca do estado da educação em Portugal - nem nos aspectos que melhor conheço - porque temo ser injusto para com o trabalho dos sucessivos responsáveis políticos e diversificados intervenientes no processo educativo.
A educação e a formação são assuntos demasiado sérios para acerca deles se tecerem considerações ligeiras e juízos definitivos.
Mas guardo uma sensação bastante viva de que atravessamos uma época cinzenta. O problema não é recente e atravessa, ao longo das últimas 3 décadas, governos de diversificadas matrizes ideológicas e programáticas.
Ao longo dos anos as ideias repetem-se, os recursos escasseiam e os protagonistas envelhecem, cansam-se e perdem qualidade. Por outras palavras, no plano político, tem faltado uma ideia credível e mobilizadora para "pilotar" uma verdadeira reforma da educação.
Não falo já da continuidade das políticas que deveria ser assegurada, e sustentada, numa visão de longo prazo - 20 anos (?) - mas da simples emergência de uma ideia força mobilizadora da sociedade civil e da comunidade educativa.
É por demais evidente que no sistema educativo português escasseiam recursos onde sobram energia criadora e vontade de mudança e se desperdiçam recursos onde se instalaram as rotinas e há excesso de capacidade instalada.
Ao longo do tempo os protagonistas, em particular, no ensino público, cansam-se, nuns casos, e perdem qualidade de intervenção, noutros, pois se confrontam com mudanças de paradigma inexplicáveis, entropias organizacionais absurdas, medidas avulsas imprevisíveis, rupturas hierárquicas desmoralizadoras, numa palavra, crise e instabilidade permanentes.
Num país que, em 2002, segundo as estatísticas da UE, apresentava um indicador de “abandono precoce da escola” de 45,5 %, o mais alto de todos os países da União, será necessário um verdadeiro "choque educacional" para reverter, em prazo razoável, esta situação menos favorável.
É essa a obrigação dos governos. Conceber e por em marcha projectos estruturados, a prazo, cujo sucesso, no caso da educação, depende absolutamente, de serem alicerçados num “compromisso de regime”, formal ou informal, sob pena de não ser possível regenerar a educação em Portugal.
E atendendo ao período pré eleitoral que atravessamos não se pense que as maiorias políticas, de um só partido, que podem, sem dúvida, ser favoráveis à estabilidade, dispensam esse compromisso, ante o tornam mais exigente.
Assim haja discernimento e capacidade dos responsáveis políticos partidários para colocar no centro do debate, serenamente, a questão da educação como uma daquelas que verdadeiramente interessam ao futuro do desenvolvimento integrado e sustentável da sociedade e da economia de Portugal. Será possível?
(Artigo publicado hoje no "Semanário Económico")
No comments:
Post a Comment